Mostrando postagens com marcador Do Leitor. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Do Leitor. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 5 de julho de 2017

A Aldeia

Uma Travessia na Alpha-Ômega


Julio Fiori
A seguir A Aldeia, 5º capítulo desta história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

Leia antes os capítulos: 1 -  A MARIA FUMAÇA,  2 -  A CACHOEIRA DOURADA, 3 - A TRILHA  e 4 - O SOCORRO   


 - Vai pra casa João - O índio Guarani estava afogando as mágoas na cachaça, desconsolado - já bebeu pelo dia todo e ainda nem é meio dia!

                     - Ocê não entende Seu Diceu, ela adornô minha testa com chifres e todos na aldeia se riem de mim.

                     - Bobagem João, é coisa da tua cabeça. A Maria é boa moça e agora vocês tem uma criança pra cuidar. – foi expulsando o índio para fora da lanchonete – Chega de pinga por hoje João.

Levou o índio até a bicicleta encostada no guarda corpo da varanda e voltou para trás do balcão cuidar de seus afazeres, mas com o canto dos olhos estava atento ao movimento. Um bêbado chato era ruim para os negócios no domingo, quando a lanchonete ficava cheia de montanhistas. Muito pior num fim de feriado em que havia notícias de que os bombeiros procuravam por um grupo perdido no outro lado da serra. Talvez aparecessem por ali também apesar do forte cheiro de chuva. 

O ar quente e seco prenunciava a tempestade que se formava do outro lado e não demoraria em vencer a serra. O vento já começava a levantar redemoinhos de poeira no pátio de estacionamento, soprando forte sem direção distinta. Naquela tarde o céu viria abaixo depois de quase um mês sem chuva. Diceu não queria estar no pêlo dos que estavam perdidos no mato.

O índio João até que tentou montar na magrela, mas precisou se contentar em empurrá-la morro acima. Teria muitos morros mais a enfrentar antes de chegar à aldeia e isto daria tempo para curar parte do pileque, mas seu ódio crescia a cada novo tombo na estrada. Era tudo culpa da Maria, aquela traidora, e principalmente do Matheus. Sua mente distorcida tecia planos para se vingar do Matheus, bateria nele até não sobrar nenhum dente.

Mas não sabia como separá-lo dos capangas e nem o que fazer depois para fugir da vingança. Subiu na bicicleta e até conseguiu dar umas pedaladas, mas caiu, vomitou as tripas e acabou adormecendo dentro da valeta na beira da estrada.

A Estrada dos Mananciais segue para o interior do sertão em paralelo a represa de Cayuguava de um lado e os picos da serra de outro. Chega as nascentes do Rio Iguaçu, nas grotas entre os morros da Mesa e o Negro onde ainda existem pequenas barragens e antigas tubulações que forneceram água a Curitiba em séculos passados.  

João acordou molhado e com frio, mas nem um pouco mais sóbrio. Levantou cambaleante debaixo da chuva grossa com a água já enchendo a sarjeta. Os relâmpagos iluminavam o céu negro e o estourar dos trovões só aumentavam sua dor de cabeça, mas sem qualquer abrigo não lhe restavam alternativas. Seguia em frente cada vez mais irritado sem desviar das poças d’água. 

O tempo e a chuva fria lentamente faziam o serviço para amenizar o pileque e finalmente conseguiu se equilibrar em cima da magrela. Viu um raio explodir sobre as pedras no Morro da Mesa e depois tremeu com o estrondo. Seu percurso era sinuoso e difícil na estrada lamacenta. Pouco se enxergava a frente e o vento frio encanava da represa para dificultar ainda mais seu parco equilíbrio.

Ainda distante estava a aldeia com todas as luzes acessas apesar do horário. A tempestade antecipava a escuridão da noite e os trovões silenciavam os cachorros, normalmente barulhentos. Havia muitos cachorros magros e cheios pústulas de mosca. Vermes por dentro e carrapatos por fora, se reproduziam muito e duravam pouco, mas eram necessários para manter os gambás e as onças pardas longe dos galinheiros. 

A aldeia, de fundação recente, era composta de uma vintena de casebres e seus anexos espalhados pelo terreno natural. Casas de madeira sem sarrafos ou pau a pique, todas cobertas com fibrocimento ou velhas telhas francesas doadas pelos vizinhos. O piso de chão batido pouco isolava da umidade e os banheiros eram externos, de uso comunitário. Do século vinte tinham a luz elétrica, televisores, geladeiras e automóveis domingueiros, mas poucos em condições de rodagem e a moto ou a bicicleta eram os meios de transporte mais usual. O telefone celular começava a se disseminar mesmo com a falta de sinal na entrada do mato. Macacos e capivaras domesticadas dividiam o terreiro com os cachorros sarnentos e as galinhas. 

Novos vícios vindos da cidade completavam os antigos. Índios que viviam nas favelas de Curitiba e Piraquara retornavam nos finais de semana com maconha e coisas piores. O cacique Matheus tinha muito trabalho para proteger sua comunidade dos perigos do mundo exterior. Nada podia fazer contra o fumo e o alcoolismo crônico, mas lutava arduamente contra as drogas pesadas e os cultos neopentecostais sempre a caça das almas de Tupã.

Matheus era temido pela unidade dos seus partidários e respeitado pela força dos argumentos. Andava sempre armado de revólver e não costumava engolir desaforos, mas era gentil e cordato com os amigos. Suspeitavam que estivesse envolvido com desmanche de automóveis em oficinas pouco honestas e se sabia de alguns rolos com a polícia. 

Avesso às fofocas e bom apreciador de futebol e cerveja, tinha um fraco por mulher. Comentavam de muitas amantes nas favelas de Piraquara onde trabalhava, mas ninguém na aldeia sabia ao certo em quê e de onde vinha o dinheiro. 

Se Maria e Matheus mantinham algum caso amoroso ninguém tinha certeza, mas desconfiavam bastante e o menino nascido há pouco mais de um ano e meio teimava em confirmar nas suas feições, desfazendo o preconceito de que todo índio era igual. A cada semana menos se parecia com o pai que desandou na bebedeira.

Um cambaleante João da Silva chegava à aldeia transformada num terrível lodaçal, empurrando a bicicleta debaixo de chuva com raios e trovões pelas costas. Arrastou-se até seu casebre na beirada do mato e abriu a porta com a delicadeza dos bêbados. Maria se encolheu no canto, junto à rede da criança. 

Brigas, tapas, choro e bebedeiras tinham se tornado rotina na vida daquela mulher sempre apavorada ao final da tarde, quando o marido retornava. Mas dia a dia a violência aumentava e já temia pela vida da criança. Até os cachorros o hostilizavam ao chegar de pileque. Nunca deixava o menino sozinho com o pai e passava também a vigiá-lo durante a noite. Qualquer ruído a colocava em pânico mortal.

João atirou-se no banco de madeira ao lado do fogão praguejando contra a chuva e o frio. A resignada Maria se apressou em ajudá-lo a se desvencilhar das roupas molhadas, mas foi recebida com um murro no rosto. 

                - Vaca! Puta! – passou muito tempo na estrada remoendo seu ódio – Vá secar o teu amante, piranha maldita!

Levantou-se com energia redobrada e passou a espancá-la. Podiam-se ouvir seus gritos por toda a aldeia com o cessar dos trovões e os cachorros ficaram em polvorosa, latindo e uivando desesperadamente. A chuva diminuía de intensidade e a briga aumentava de volume. 

A vizinha saiu de guarda chuva pela lama para bater na porta do cacique, desta vez a coisa parecia fora de controle. Matheus colocou as mãos na cabeça, depois pegou a espingarda e acompanhou a mulher até a porta do casal. Outros índios se juntaram a eles chamando por João e Maria, que não respondiam. Enfim arrombaram a porta.

Maria soluçava a um canto com o rosto deformado de tanta pancada e o menino chorava aterrorizado na rede de dormir. Do João nem sinal, o medo curou a bebedeira e fugiu pelos fundos da casa, se internando no meio do mato. Os homens ainda procuraram por ele nos galinheiros e nas garagens enquanto as mulheres tratavam dos ferimentos da pobre moça. Algumas até achavam a surra merecida diante das graves suspeitas, mas não podiam deixar de prestar sua solidariedade feminina para com a vítima.

Os homens retornaram depois de terminada a busca infrutífera pelos arredores da aldeia e vendo Maria cheia de hematomas, Matheus lhe colocou nas mãos a espingarda.

                 - Toma, se ele aparecer de novo é só apertar os dois gatilhos!

                 - Não posso – falou entre soluços – ele é o pai do meu filho.

                 - O pai do teu filho vai acabar matando você e a criança, faça o que tem de ser feito mulher!

Mais não disse e recolheu-se ainda tremendo de raiva para sua casa, trocar as roupas molhadas e se aquecer junto ao fogo. Os outros vizinhos, pouco a pouco, também fizeram o mesmo e no final só restaram Maria, o menino e a espingarda no casebre. 

“Faça o que tem de ser feito Mulher!”

Gastou muito tempo arrumando a bagunça. Deitada na cama contemplava a escuridão com olhos vidrados no infinito. A tempestade retornou com força. Os relâmpagos iluminavam o aposento pelas frestas entre as tábuas e os trovões faziam seu coração tremer de medo. Os cães soaram o alerta e a porta se abriu de repente mostrando uma silhueta escura. Bumm, Bummm! Dois tiros de espingarda misturaram-se aos trovões. 

A criança soluçava abafado no ambiente esfumaçado e o cheiro da pólvora se misturava ao doce odor do sangue. Surda com o estrondo, nada ouvia, nem o som da chuva incessante. Paralisada no tempo e no espaço deixou-se cair no vácuo até que novo trovão a despertou, pegou o menino e fugiu para a casa do Matheus.

                 - Deus do céu, eu matei, eu matei o João!

Os cães sumiram em meio aos casebres na escuridão. Com a lanterna iluminou o corpo caído de bruços no chão da cozinha.

                 - Quem é este cara?

Alguns passos atrás, Maria e a criança esperavam na chuva.

                 - Entre Maria, saia desta chuva! A vez do João ainda não chegou.

Olhou para fora e se certificou que a aldeia dormia tranqüila enquanto amainava a tempestade. Os trovões haviam encoberto o som dos disparos.

                 - Veja Maria, conhece este sujeito? – iluminou o rosto com a lanterna.

                 - Antes da chuva tinha helicóptero nas montanhas, podiam estar procurando alguém, mas não sei. Está morto?

Matheus revistou a mochila, encontrou os documentos, cartões, maquina fotográfica e o telefone celular desligado. Ficou com o dinheiro.

                 - Vamos precisar disto. Me dá uma coberta, atice o fogo e queime tudo que puder.

Maria obedecia no automático. Pelou o defunto e embrulhou no cobertor. Matheus com muito esforço jogou o peso sobre os ombros e saiu na chuva pelos fundos da casa, desaparecendo no mato. Andou por quase dois quilômetros pela estrada deserta até a última morada dos cães. Uma estreita fenda nas rochas onde jogavam os corpos dos bichos que morriam doentes. 

                 -Aqui ninguém desconfiará do cheiro de carniça.

Passaram o resto da noite queimando roupas, equipamentos e até o cobertor. Limparam tudo e com o que sobrou encheram duas sacolas de supermercado.

                 - Faça as malas Maria, vou te levar pra cidade.

                 - Mas, o João?

                 - Ele se vira. Você não pode ficar aqui, vai por tudo a perder.

Partiram de carro ao amanhecer. Em Piraquara jogaram as sacolas numa lixeira de rua. Deixou Maria na casa de uma amiga numa favela de Curitiba e foi trabalhar na oficina.

Dentro da caverna dos cachorros o defunto acordou por instantes e viu dezenas de cintilantes olhos verdes na escuridão.


Continua no capítulo     6 - A TEMPESTADE

O Socorro

Uma Travessia na Alpha-Ômega

Julio Fiori
A seguir O Socorro, 4º capítulo desta história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

Leia antes o capítulo 1 -  A MARIA FUMAÇA,  2 -  A CACHOEIRA DOURADA   e   3 - A TRILHA          


      - Senhor, sobre o desaparecimento dos três jovens na Serra do Marumbi.

                 - Algum pedido de socorro? Já se passaram as 48 horas?

                 - Não senhor, mas os pais estão desesperados com a falta de notícia e tem algo estranho nesta história.

                - Estranho seria estes mochileiros fumarem sua maconha em casa para não dar trabalho ao GOST no final de semana, mas vamos lá, o que sabe?

                - A moça se comprometeu com a mãe de fazer contato uma vez por dia e não ligou ontem e nem hoje. Declararam no Centro de Visitantes que iriam para o camping do parque, mas não fizeram cadastro de entrada e nem reserva. No trailer do Itupava também não passaram e o carro do rapaz foi identificado ainda no estacionamento.

                - Até aí nada de estranho, tem muito mato pra estes mochileiros se esconderem. Vamos esperar o fim do feriado.

               - Tem mais senhor, requisitamos os cadastros de entrada do Itupava e das Prainhas, ligamos pra quase todo mundo fornecendo as descrições e ninguém viu sinal deles.
  
               - E o pessoal da estrada de ferro?

               - Um maquinista disse que quase atropelou quatro idiotas na Ponte São João, mas podiam ser apenas três.

               - Ou cinco! Idiotas crescem em árvores por ali nos feriados. Afinal são idiotas profissionais ou iniciantes?

               - Inexperientes Senhor! Os pais nos passaram os contatos dos amigos e todos afirmaram que nunca acamparam mais do que duas ou três vezes na vida.

               - Então sozinhos não iriam muito longe. Tentaram as operadoras de celular, facebook, e-mail?

               - Só na segunda feira Senhor, com protocolo e ordem judicial.

               - Até parece que estamos investigando político corrupto e não tentando encontrar três malucos antes que se machuquem!

Um dos atendentes interrompe a conversa.

               - Senhor, a mãe da moça desaparecida, ao telefone.

               - Ok soldado! Falo com ela.

                - Sim senhora, claro que entendo sua aflição, mas se fosse minha filha não seria diferente. As 48 horas são necessárias para registrar o desaparecimento e só então posso mobilizar uma busca. – finalmente propôs um acordo – Vamos fazer da seguinte maneira Dna. Clara; deixo uma equipe de busca em prontidão para partir amanhã bem cedo, e passadas as 48h, lhe garanto que vou pessoalmente comandar os homens e fazer alguns sobrevôos com o helicóptero pela região. 

*****

Aqueles terríveis olhos verdes o seguiam na escuridão do bosque e apavorado tratou de adiantar o passo, ultrapassando Oscar e Anna para prosseguir mais próximo do Aldo e manter a maior distância possível daquelas entidades maléficas que o perseguiam desde a cachoeira. Estava em dúvida sobre tudo que havia acontecido naquela noite de horror na cachoeira e nem ousava perguntar, mas boa coisa tinha certeza que não foi. 

Tinha a impressão de estar fora de seu corpo vendo à distância o próprio corpo sendo dominado por alguma entidade maligna. Possuído por demônios torturava a Anna e sentia imenso prazer naquilo. Estava apavorado consigo mesmo pelo que pensava haver feito e mais ainda com o desejo imenso de repetir tudo novamente. Sentia uma parte do monstro pulsar dentro do peito e  outra o seguindo resoluta para se juntar à primeira e tomar o pouco de sanidade que ainda lhe restava. Quase ansiava para perder a corrida e isto era o que mais o amedrontava.

*****

                - Tenente, duas patrulhas para amanhã bem cedo. A primeira desce pelo Itupava a partir de Borda do Campo e se divide na Casa do Ipiranga. Depois de procurar na represa, metade dos homens segue os trilhos e os outros a trilha até o Santuário do Cadeado. Não esqueça dos túneis abandonados.  Do Santuário os que seguiram pelos trilhos descem pela trilha até a estrada e os demais prosseguem pela ferrovia. A segunda patrulha desce pela BR 277 e se divide no Centro de Visitantes nas Prainhas, metade vai pro Salto dos Macacos e metade vai pro Salto Rosário. Monte o comando das operações na Estação Marumbi e limpe a área que chego antes do almoço com o helicóptero. Já tem suas ordens.

*****

Renan desperta encharcado em suor no meio da noite. Em seus pesadelos estava sozinho na floresta perseguido por feras, fantasmas ou outra entidade demoníaca de olhos verdes flamejantes. Liga a lanterna para se certificar que está na barraca com seus companheiros, mas ilumina dois cadáveres em avançado estado de decomposição. Besouros e vermes de todo tipo fervilham sobre as partes expostas dos corpos putrefatos. Baratas entram e saem das cavidades vazias e o mau cheiro é insuportável. Aterrorizado, se atira para fora da barraca, de passagem agarra sua mochila e sai cambaleante pela noite. 

A névoa densa dispersa a luz da lanterna e abafa os ruídos dos passos. Tropeça, cai e se arrasta, levanta e corre sem direção. Faz longos círculos pelo capim molhado, repisa os próprios passos e se vê novamente em frente à barraca. Recua apavorado até a borda da capoeira, engatinha por uma trilha de porcos do mato. Levanta e corre pela floresta até o chão desaparecer sob seus pés. Despenca no precipício e o silêncio lhe invade a alma. Pequenos olhos verdes faiscantes lhe observam na escuridão e lentamente perde os sentidos.

*****

                - Um contingente do Corpo de Bombeiros da capital se deslocou para o Parque Estadual do Marumbi a procura de três jovens que estão desaparecidos desde as primeiras horas de sexta feira. As primeiras equipes de busca já retornaram ao centro de comando montado na Estação Marumbi depois de fazer uma grande varredura pelos principais pontos freqüentados por mochileiros e montanhistas na região. A montanha foi evacuada e todos os montanhistas presentes no parque ficaram concentrados junto à estação para auxiliar com informações e não embaralhar as possíveis pistas, mas até o momento nada de conclusivo foi identificado. Dulcinéia Morais no Parque Marumbi para a RTC-Tv.

*****

                - As pistas mais promissoras são ainda os indícios colhidos na grota entre os túneis seis e sete que dão confirmação ao depoimento do maquinista. Se tivessem subindo para o Cadeado os teríamos encontrado e se vieram para a estação por que não se cadastraram? 

                - Porque queriam fazer merda! – conclui o Major - Como se chega à área intangível do parque vindo pela ferrovia sem passar pela estação? Cortando caminho pelo Rio Taquaral. Mande uma equipe para o Pau do Maneco.

                - Senhor, estão andando por mais de dois dias e se não estiverem perdidos já podem estar chegando no Morro do Canal, então não custa levar um alerta para a outra ponta da serra.

                - Faça isto Tenente e ordene prontidão ao piloto. Assim que o vento acalmar, faremos um sobrevôo sobre toda esta área. Ninguém viu nada pros lados do Boa Vista e no Leão, então o Pelado pode ser uma boa aposta havendo rastros recentes no Pau do Maneco ou na Free Way.

*****

A ventania varre a copa das árvores e Renan finalmente recupera os sentidos no fundo da grota. Havia despencado dezenas de metros em muitos degraus consecutivos tendo sua queda amortecida pela copada das árvores, taquaras e cipós nos extratos mais baixos. Levanta-se com dificuldade e uma dor imensa lhe invade o peito e a perna direita estava grudada à calça, ensopada em sangue seco. Não se animou em examinar o ferimento e apenas apalpou o peito dolorido. Uma dor excruciante lhe impedia de gritar, talvez fossem algumas costelas fraturadas, mas não podia ficar ali esperando ajuda. 

O sol já se fazia alto e com esforço imenso se arrastou encosta abaixo deixando um rastro de sangue fresco atrás de si. Cortou uma forquilha e improvisou uma muleta para ganhar velocidade e seguiu cambaleante os inclinados raios de sol que atravessavam a cobertura das árvores. 

Afastava-se mais e mais do maldito acampamento. Não entendia o que tinha acontecido e nem queria pensar naquilo. Suas preocupações se resumiam em dar o próximo passo e tomar distância daqueles pequenos olhos verdes que o seguiam na profundidade do bosque, nem a dor o detinha. De tão forte acabara por tornar-se sua única companheira e pensava que ainda estaria vivo enquanto sentisse as dores. 

Notou enfim que subia uma encosta muito inclinada acompanhando rastros pré existentes. Precisou abandonar a muleta e se arrastar apoiando-se nos troncos das árvores quando encostou no paredão de pedra e visualizou a velha corda pendendo do alto. Havia encontrado a rota de descida e isto o encheu de esperança. Sentou-se no barranco para descansar sentindo o doce sabor do sangue a cada vez que respirava.

*****

                - Sargento Padilha para base, cambio!

                - Aqui base, prossiga Sargento, cambio!

                - Restos de acampamento recente na Cascata Dourada, mas a chuva piora e vai apagar as pistas, cambio!

                - Prossiga Sargento, cambio!

                - Também havia uma concentração anormal de urubus por detrás do morro antes da chuva, vamos verificar, desligo.

No cume da montanha encontraram rastros frescos e nem atentaram para as inscrições nos destroços, havia tantas que levaria metade do dia para verificar cada uma individualmente. 

A baixa visibilidade impossibilitava qualquer avaliação e se limitaram a seguir as marcas no capim alto. Não é nada aconselhável permanecer num cume de montanha durante uma tempestade e os relâmpagos iluminavam os céus a todo instante. Desceram pela encosta transformada em cachoeira e no fundo do pequeno vale já encontraram sérias dificuldades para transpor os riachos formados pela chuva e os rastros os guiaram até o primeiro precipício.

                 - Na escuta Sargento, cambio!

                 - Temos um corpo, está copiando, cambio!

                  - Prossiga, cambio!

                  - Vamos empacotá-lo para resgate pelo ar e retornar, cambio!

Renan encontrou o fim de sua jornada depois de vencer o último grande obstáculo e tombar em campo aberto. Os urubus raramente esperam pelo último suspiro do moribundo e quase sempre iniciam o banquete pelos olhos da vítima indefesa.

Na impossibilidade de receber equipamentos e suprimentos pelo ar não restavam alternativas aos bombeiros. Deixaram o pacote preparado para o resgate com o helicóptero e retornaram à base sabendo dos muitos perigos que a tempestade haveria de impor pelo caminho.

                 - Se eram inexperientes, como foram tão longe?

                  - Nunca subestime a capacidade desta molecada pra fazer besteira! 

Continua no capítulo 5 - A ALDEIA

A Trilha

Uma história na Travessia Alpha-Ômega

Julio Fiori
A seguir A Trilha, 3º capítulo desta história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

Leia antes 1 A Maria Fumaça  e 2 A Cachoeira Dourada


Foto Julio Fiori
  - Vamos, vamos pessoal. Acordem! – Aldo gritava na porta da barraca – Estamos perdendo um tempo precioso!

Aberto o zíper da barraca escapam duendes, gnomos e fadas para o interior da floresta e também o cheiro acre de maconha e sexo para a fria atmosfera do amanhecer. Procuraram curar a ressaca com café amargo, quente e forte ao lado da cascata que estranhamente perdeu o brilho dourado da tarde anterior. Escalaram os pequenos estratos da pedra com as mochilas nas costas e na beirada da grota, Anna voltou um último olhar para o vale mágico. Já não distinguia, dentre as lembranças daquela noite, a realidade da fantasia.

Subiam uma encosta inclinada com capim na altura do umbigo e a paisagem se alargava a cada novo passo. Apareciam imponentes montanhas de um verde soturno com o sol ainda baixo no horizonte e distantes montanhas de um azul claro na medida em que o calor da manhã dissipava as brumas etéreas que avançaram do mar durante a noite. A civilização ficava mais distante a cada passo e dela já restavam poucos sinais. Apenas uma rústica tabuleta amarrada a uma árvore solitária no alto de um degrau de terra.

               - Pelado é o nome da montanha, mas e aqueles dois símbolos? - Quis saber Oscar – Parecem um girino e uma ferradura!

               - É uma longa história. – intervém Aldo – Trata-se das letras Alpha e Ômega que vem a significar o início e o fim. Uma é a primeira e outra é a última letra do alfabeto grego. A trilha que estamos subindo se chama Free Way e na verdade é um atalho na mística Travessia Alpha-Ômega que começa no Morro do Canal e termina no Pico Marumbi. Atravessa na longitudinal toda a Serra do Marumbi e desde muito tempo atrás se acredita que separa os homens dos meninos.

               - Você está de sacanagem. Com exceção dos duendes no vale é uma trilha como qualquer outra. Basta andar e...

               - Engano seu, Oscar. A trilha acaba no cume desta montanha e dali em diante o bicho pega pra valer. É onde a criança chora e a mãe não ouve. Daqui até o Morro do Canal tudo, absolutamente tudo, pode nos acontecer. Desde ficar uma semana perdidos no mato até ataque de onça. Nesta travessia se começa menino e termina homem ou...

Mais não disse por que chegavam muito próximos do cume e no meio do capim brilhava um estranho objeto branco. Fizeram festa ao encontrar a asa de um avião toda amassada e repleta com nomes, datas e assinaturas. Ali depositaram também as suas.

               - E o resto do avião, está na grota?

               - Não, está no cume daquela montanha escura no horizonte. – apontou com o dedo – A última que se consegue ver daqui.

               - Mas como o avião está lá e a asa aqui? 

               - Se não foram os gnomos da Anna que a trouxeram é porque derrubou a asa aqui e caiu lá ou alguém arrastou. Sei lá, Oscar!

Não esclareceu ou também não sabia que se tratava de aviões diferentes e acidentes sem nenhuma conexão. Distraídos com os destroços nem repararam nas espessas nuvens que subiam do litoral e já encobriam os vales a leste, mas pior, induzidos ao auto engano resistem a enxergarem rachaduras na fortaleza do novo amigo, apesar das muitas evidências. 

A incrível distancia que separava os dois morros desestimulou um pouco os rapazes, mas Anna estava definitivamente convencida de que fazia uma travessia mística muito mais radical que Santiago de Compostela. Sentia a companhia de seres iluminados desde que penetrou no portal dimensional na cachoeira dourada e sairia muito mais evoluída ao final de sua jornada particular. Estava agora em busca do seu “eu” espiritual como tantos outros fizeram antes dela. Desistir jamais e compreendia que ainda deveria passar por intensas privações antes de evoluir para novo e mais elevado estágio. Repetia para si mesma que a escuridão da noite é muito mais densa nas horas que antecedem o amanhecer e se preparava espiritualmente para este momento.

O lado oposto da montanha era um terrível despenhadeiro que descambava para o fundo da grota não menos de trezentos metros quase verticais para subir tudo novamente até um pequeno campo entre duas outras montanhas desafiadoras. 

O campo escorregava para o buraco, sentiam nos pés a pedra inclinada por debaixo de uma fina camada de musgo. Cruzaram um estreito vale arborizado por entre camadas de folhas podres, troncos mortos e valetas gotejantes para novamente alcançar um trecho de campo espinhento que se estendeu até a beirada do precipício. 

Dependurados numa corda velha e suja conseguiram vencer o degrau de rocha para se verem tragados pela imensa floresta. Seguiram andando, deslizando encosta abaixo até outro precipício que venceram da mesma forma. A floresta ficou sombria com suas árvores ultrapassando os trinta metros de altura. Pouca luz chegava ao solo coberto por folhas mortas, xaxins e samambaias rasteiras. 

Renan, normalmente meio depressivo, se mostrava cada vez mais inquieto. Não aceitava ficar na retaguarda e dizia que estavam sendo seguidos por alguma coisa estranha.

               - Fica frio companheiro, são os elfos da Anna que zelam por nossa paz.

Mas mesmo a floresta lúgubre tem seus ruídos e o silêncio daquele lugar tornava-se cada vez mais ameaçador. A floresta fantasmagórica engolia a todos num abraço sombrio e depois de muito caminhar ouviram o ruído da água escorrendo por debaixo dos pés. 

Chegaram finalmente ao fundo da grota e um riacho subterrâneo cantava seu murmúrio triste por entre as frestas das pedras cobertas de limo verde. Escalavam agora por entre o caos de pedras desmoronadas, algumas imensas, por debaixo das árvores. Desviando gretas profundas e escuras, subindo por troncos de velhas árvores apodrecidas em meio ao limo escuro e bolsões de folhas fétidas. 

A inclinação começa a amenizar e as grandes pedras são substituídas por rochas menores e redondas e a água recomeça a escorrer pela superfície com seu lamuriar característico. Seguem um bom quilômetro antes de abastecer as garrafas com a água que jorra da nascente entre as rochas e flui sobre as lajes para formar o riacho. Enfrentam mata espessa a golpes de facão ao sair do vale para nos campos encontrarem um denso nevoeiro a tudo encobrindo. 

Imersos num mundo irreal, opaco, denso e úmido onde o som se propagava com imensa dificuldade, seguiam cabisbaixos, concentrados em seus próprios temores. Caminham pelo campo com visão limitada. Oscar no fim da fila indiana já não enxerga Aldo na vanguarda e Renan a poucos passos a frente de Anna segue aparecendo e desaparecendo na bruma fantasmagórica. Alcançam a borda do mato alto e seguem em paralelo procurando algum rastro, algum indício de que alguém ou alguma coisa já tenha por ali passado, mas nada encontram e param desorientados. Uma inquietação começa a brotar do fundo de suas almas querendo afogar seus espíritos enquanto esperam Aldo consultar seu GPS.

               - Merda, uma das pilhas vazou dentro do aparelho. Alguém tem fácil uma lanterna com pilhas boas?

Estavam congelando expostos à umidade penetrante. Aldo seca o receptáculo com a ponta da camisa e substitui as pilhas, mas o aparelho se nega a despertar. Vestem os anorakes e reiniciam todos os procedimentos com as mãos tremulas e as gotículas d’água se acumulando sobre as roupas impermeáveis e no próprio equipamento. 

Novamente sem nenhum sinal de sucesso resolvem por fim acampar para tentar resolver o problema dentro do aconchego da barraca.  

Iniciam os preparativos para a noite enquanto Aldo improvisa uma cobertura com uma lona azul a poucos metros de distância, no campo umedecido pela neblina. Estica seu saco de dormir sobre o isolante e se preparava para deitar com o estômago vazio quando ouve o chamado para comer. Numa barraca para dois dormem três empilhados e agora os quatro sentados dividiam as porções de macarrão instantâneo. Tinham alimentos para vários dias se devidamente racionado. 

A refeição quente lhes recuperou o ânimo e o humor e apenas Renan se tornava mais depressivo e ansioso que nunca implorando com os olhos para consumir seu doce, mas os outros lhe repreendem com sinais. Querem esperar Aldo resolver o problema de orientação e sair da barraca apertada. 

Pacientemente limpam e secam o aparelho, as pilhas e os circuitos mais expostos, remontam tudo várias vezes. Trocam as pilhas por outras sem nenhum sinal de vida. Finalmente desistem e partem para a interpretação da carta topográfica. Com a bússola orientam o mapa para o norte.

               - Estamos entre as duas montanhas que vimos do Pelado nesta manhã, então o colosso de pedra está embaixo e a mais alta, coberta de mato, está para cima do campo onde trombamos com o mato alto. Assim a direção é oeste até o fundo da grota quando viramos a 225 graus sudoeste, vou marcar na bússola para amanhã não ter o que discutir.

Aldo se retira para debaixo de sua lona encharcada, Oscar ronca feroz como uma onça esfomeada e Renan treme entre pesadelos, afogado em suor. Anna tenta resistir, mas acaba cedendo ao cansaço acumulado e adormece sonhando com seus elfos, fadas e duendes. 

A madrugada fria e úmida penetra pela porta aberta da barraca e quase congela Anna que se encolhe subitamente, despertando Oscar.

               - Porra Renan, feche a porta da barraca quando sair pra mijar!

Fecha o zipper lutando contra o sono e volta a dormir mais confortável com o momentâneo ganho de espaço. A barraca treme levemente com uma breve lufada de vento. Anna e Renan não ouvem as reclamações de Oscar e apenas Aldo, a poucos passos debaixo de sua lona, estava atento aos movimentos naquela noite estranha.

Despertava a intervalos irregulares, tremendo de frio e medo.


Continua no capítulo 4 - O SOCORRO

terça-feira, 4 de julho de 2017

A Cachoeira Dourada

Julio Fiori
Uma história na Travessia Alpha-Ômega

A seguir A Cachoeira Dourada, 2º capítulo desta história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

Leia antes o capítulo 1 - A MARIA FUMAÇA


Venceu a rebeldia e depois de alguma relutância rumaram para o Pau do Maneco com cuidado para não serem vistos nem deixar rastros comprometedores. Encontraram o mundo virado de ponta cabeça, árvores com as raízes nuas para o alto enquanto as copas desapareciam no fundo das grotas, paredes verticais de pedra vertendo água, limo e troncos podres. Tudo desbarrancando em desordem e o primeiro da fila deslocava pedras que passavam como mísseis rentes às cabeças dos demais. Era o mais próximo de uma escalada realmente selvagem que aqueles jovens já haviam chegado e isto ao contrário de desestimulá-los só os excitava ainda mais. A própria dificuldade era a recompensa. 

Seguiram motivados, escalaminhando barrancos e agarrando-se as árvores por horas a fio até encontrarem o riacho que ouviam gritar no fundo da grota. As dificuldades diminuíram e o arvoredo tornou-se magnífico facilitando a caminhada. Num grande bambuzal tomaram o rumo do oeste por entre vegetação espessa onde só a dureza do chão denunciava a trilha, mas Aldo a frente seguia resoluto, esbanjando experiência e infundindo confiança.

O conjunto Marumbi sempre ocupou posição de destaque na paisagem paranaense. Muito impressionou os primeiros europeus que se aventuraram terra adentro a partir de Paranaguá assim como já era referenciada pelos índios muito antes disso e continua admirado por quantos o vêem ainda hoje. É uma linha contínua de montanhas que se levanta abrupta da baixa planície litorânea para atingir a altura de 1.565 metros no Morro do Leão e avança pelo primeiro planalto ainda preservando sua majestade. São aproximadamente 30 montanhas agrupadas geologicamente em 3 serras bastante separadas de outras serras por imensos precipícios.

Renan gradativamente ia ficando para trás sobrecarregado com peso inútil na mochila. Carregava água em demasia, capacete de segurança, piquetas para escalada em gelo e outros itens desnecessários e até surreais para uma caminhada na floresta tropical. No início era tratado com certa condescendência, mas não tardou para se tornar alvo das gozações dos amigos e, cansado, começou a ficar profundamente irritado.

               - Vá pentear macaco. - era sua resposta padrão.

E a macacada efetivamente apareceu para encarar o pente, balançando sobre os galhos das árvores que cobriam um riacho. O bando de macacos prego não possuía mais que uma dúzia de elementos liderados por um grande macho que de imediato demonstrou insatisfação com a súbita aparição dos primos humanos. Emitindo gritos, assobios e chiados ordenou a imediata retirada da pequena tropa. 

Antigas histórias de caçadores relatam que ao se verem acuadas, as mães expõem os filhotes na esperança de despertar compaixão em seus algozes. Mas não havia compaixão alguma com o Renan e Oscar seguia contando histórias nada abonadoras a seu respeito até alcançarem os campos. Caminhavam em paralelo a profunda depressão que necessariamente seria enfrentada ainda naquela tarde. Procuravam por um lugar menos traumático para executar a travessia do vale e acompanhando velhos rastros finalmente encontraram uma corda fixa descendo o precipício. 

               - Meu Deus! É exatamente como vejo nos sonhos e sempre pensei tratar-se de uma lembrança de vidas passadas, mas é real Oscar, é real!

Anna entrou em êxtase ao se aproximar da borda da depressão e ver o pequeno vale por completo. Ao final da encosta na montanha o terreno subitamente despencava uns dez metros por onde escorria uma fina lâmina d’água sobre degraus de pedra amarela que naquele horário produziam um reflexo dourado. Ouro puro e brilhante escorrendo líquido por entre as árvores.

               - Oscar, este é o lugar que lhe falei. A cascata dourada, o bosque, o vale! É aqui que vi os duendes e as fadas, os elfos! Este é o lugar que se repete nos meus sonhos. Estas águas purificam o corpo e o vale é um dos portais para o mundo das criaturas celestiais, onde as realidades se misturam.

Deixaram o campo seco e quente se agarrando em cordas para alcançar o bosque úmido e fresco no fundo do vale. Deitaram as mochilas numa pequena clareira e correram saciar a sede nas águas límpidas da cascata. 

               - Veja esta água, é diferente de todas as outras. Tão limpa e transparente, mas transforma a pedra em ouro só em tocá-la! É o elixir da vida longa procurada pelos alquimistas, que cura todas as doenças do corpo e da alma. Bebam e experimentem da verdadeira felicidade!

               - Onde estamos Aldo? - Oscar se mostra um pouco cauteloso fora de sua zona de conforto e Aldo os distrai com outra história enquanto descansam.

               - A ferrovia baseou seu traçado na antiga trilha sob o comando de engenheiros e mestres italianos com muita experiência adquirida em construções similares nos Alpes. Os andaimes da incrível ponte sobre o Rio São João foram inteiramente executados com bambu. Com eles veio o alpinismo que contaminou os paranaenses desde então. Já em 1879 o morreteano Joaquim Olimpio (Carmeliano) de Miranda reuniu um grupo de aventureiros e inaugurou o montanhismo esportivo no Brasil partindo de um acampamento ferroviário onde trabalhava. Repetiu a façanha várias vezes até sua morte, sempre acompanhado por pessoas diferentes e assim disseminando o vírus e a paixão. 

               - Mantém discípulos e seguidores até hoje.

Nos anos da segunda guerra o esporte ganhou forte impulso com as perseguições aos imigrantes italianos, germânicos e nipônicos que apartados da vida social na capital e já adeptos de aventuras out door em suas pátrias de origem, invadem as principais montanhas do Marumbi para piqueniques, caminhadas e depois escaladas. Conquistam todos os cumes, estabelecem as trilhas principais e abrem as vias clássicas de escalada pelas paredes de rocha. Nesta mesma época havia desejos e estudos para percorrer o que chamavam de silhueta da serra, mas o nome definitivo só chegou em 1962 com o projeto Alpha-Ômega do Henrique (Vitamina) Paulo Schmidlin e Ronaldo (Bigode) Cruz que traçaram as bases para a explosão das travessias 30 anos depois. O percurso clássico se iniciava no planalto escalando o Morro do Canal seguido da Torre do Vigia e desviando a noroeste sobre o cume agora chamado de Ferradura para em frente superar os Morros Negro, Sem Nome, Alvorada 4, 3 e 2, Chapeuzinho, Chapéu, Pelado, Ângelo, Leão, Boa Vista, Pico Marumbi (também chamado de Olimpo em homenagem a seu conquistador), Gigante, Ponta do Tigre, Esfinge, chegando a Estação Ferroviária de Marumbi pela Passagem Noroeste. Todos separados entre si por imensas grotas, florestas fechadas e distancias respeitáveis. 

Depois foram criando atalhos em função da disponibilidade do tempo que cada um possuía para percorrer o trajeto e assim surgiu a Trilha Free Way que se inicia ao final da Trilha Pau do Maneco e dá acesso direto ao Morro Pelado, passando por esta belíssima cascata. Também desviaram o Morro do Chapéu passando pelo selado que o separa do Espinhento e do Chapeuzinho descendo por um vale terrível para chegar diretamente no Morro Alvorada 2. Na outra ponta é possível desviar do Morro do Canal pelo atalho da Torre Amarela que leva direto a Torre do Vigia.

Os extremos leste e oeste são bem conhecidos e servidos com inúmeras trilhas liberadas para os esportes e o turismo. Entre eles um grande território desconhecido e sem trilhas onde cada um faz seu próprio caminho.

               - E aqui estamos no desafio Alpha-Ômega de resistência e navegação.

Todos queriam encerrar a jornada naquele lugar paradisíaco e apenas Aldo insistia em estragar a alegria de Anna impondo o pernoite morro acima, onde acampariam no campo sob um céu de estrelas. Argumentava que o vale se transformaria numa geladeira a noite e andando forte ainda poderiam alcançar o cume em mais algumas horas. Foi voto vencido pelo esgotamento geral dos caminhantes aliados ao entusiasmo transbordante da Anna. Não teve opção além de escalar a cascata e montar seu bivaque solitário nos campos, distante da umidade do riacho. Renan, Oscar e Anna montaram a barraca na clareira sob as árvores, a poucos passos da cachoeira. 

               - Só falta o violão. – argumentou Oscar acendendo um baseado.

Anna arrumava o fogareiro e mexia nas panelas enquanto Renan esticava os isolantes e os sacos de dormir no interior da barraca, mas ambos interromperam suas tarefas imediatamente após sentir o inconfundível aroma da erva queimando. Na posição de lótus compartilharam o baseado e as muitas histórias que Anna sabia de cor sobre as trapalhadas dos duendes, as aparições das fadas que realizam os desejos dos mortais e da beleza e sensualidade dos elfos. 

               - Viram aquele vulto? – perguntou Renan – Com certeza era um duende se escondendo atrás das árvores e aquelas faíscas verdes?

               - Aposto que são tiriscos – afirmou Oscar.

Todos riam da brincadeira entre uma baforada e outra, mas não tardou a realmente perceberem movimentos furtivos entre as árvores e uma estranha sensação de estarem sendo observados. A larica os fez limpar as panelas e a conversa rumava para uma espécie de jogo da verdade enquanto pequenos olhos verdes e brilhantes cintilavam no fundo do bosque.

               - Nunca contei pra ninguém, mas nos meus sonhos sou possuída por dois lindos elfos neste vale. – confidenciava enquanto se deixava viajar no ácido.

Das profundezas da cachoeira se materializa um ser de pura luz dourada que se aproxima e a beija com a suavidade da brisa quente que verga as hastes de capim num campo ensolarado e do bosque sombrio as dezenas de olhos cintilantes se fundem num ser verde brilhante que a desnuda com violência e obstinação. 

Seres das florestas e dos campos se aproximam para ver o espetáculo e se dividem em campos opostos. Torcem por seus gladiadores que se alternam entre carícias e torturas. Duas Annas flutuam no centro da arena de ofuscante luminosidade, uma entregue ao prazer suave do toque de veludo enquanto a outra é sodomizada com dor e ambas são uma só. Exposta a sensações conflitantes sente o planeta estacionar, o relógio travar os ponteiros e a gravidade desaparecer pela eternidade daquele instante.

Os corpos se contorcem, o coração acelera e os orgasmos se sucedem em crescente intensidade. Corpos, árvores, cascata, água, vale e montanhas se fundem numa só alma luminosa e explodem na escuridão da noite infinita. O silêncio e o nada completam o encanto dos corpos perdidos no vazio do cosmos.


Continua no capítulo 3 - A TRILHA

Fonte  Loja Alta Montanha por  Julio Fiori em 03/05/2017 - 15:58

A Maria Fumaça

Uma história na Travessia Alpha-Ômega

 lJulio Fiori
A seguir A Maria Fumaça, 1º parte de uma história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

               - Sabiam que esta foi a primeira estrada pavimentada do Brasil? – Anna perguntou a seus companheiros de viagem.
                    - E vem mais cultura inútil! – respondeu Renan do banco traseiro sem levantar o olhar, irritado com o súbito desaparecimento do sinal de celular.

Oscar apenas sorriu, sem se descuidar do volante nas curvas sinuosas da estrada. Estava apaixonado pela garota e divertia-se com seu entusiasmo por história, florestas, animais e arte. Aprovava todos os seus interesses e corria para satisfazê-la nos mínimos detalhes.

O orvalho da madrugada tornava muito liso o piso de paralelepípedos na descida da velha Estrada da Graciosa, tornando bastante lenta e perigosa a condução do veículo, mas o entusiasmo da namorada recompensava qualquer sacrifício. Anna ficava em êxtase diante da imensidão da floresta, do ar puro inflando seus pulmões e da pureza da aurora rompendo por detrás dos morros.

Começava mais um feriadão prolongado com o final de semana e o tempo excepcional no final daquele inverno quente e seco prometia muitas aventuras no Parque Estadual Marumbi. Caminhadas pelas trilhas, banhos de rio e namoro ao luar fariam a delícia para o casal e certamente promoveria a cicatrização de uma recente decepção amorosa do amigo. Renan sempre tinha algum amor platônico que terminava sem mesmo nunca haver começado, mas estes sonhos desfeitos eram sentidos com extremado realismo.

Cruzaram o Rio Nhundiaquara sobre a ponte de ferro com o sol já ameaçando dissolver a bruma matinal e seguiram a direita pela Estrada das Prainhas, acompanhando o rio. A ausência de buracos devido a longa estiagem permitia boa velocidade e rapidamente alcançaram os estacionamentos. No Centro de Visitantes fizeram um cadastro rápido declarando apenas os nomes, telefone de contato e destino. Mochilas cargueiras nas costas e pé na estrada, tinham pressa para chegar ao camping a tempo de escolher um bom lugar antes da multidão esperada para o final de semana. 

Anna falava pelos cotovelos. Música para os ouvidos do Oscar e já bem próximos da bifurcação para a Usina de Marumbi Renan seguia distanciado para conseguir ouvir seus próprios pensamentos. Distraídos só perceberam a aproximação de um quarto mochileiro quando este os cumprimentou. Pareceu saído do nada, materializado na estrada, mas Anna o reconheceu.

               - Você não é o Aldo que escreve naquele site?
               - Você lê meus relatos?
               - Todos, adoramos tuas aventuras. Você já é uma lenda! Vai escalar?
               - Não, desta vez vou fazer uma coisa diferente.

A resposta ateou fogo na curiosidade dos três que imediatamente pararam de andar, dedicando toda a atenção para o recém chegado.

               - Não faz segredo – interrompeu o Oscar – conta logo esse lance. 
               - Não sei se devo – Aldo se fez de difícil – é apenas uma idéia que pode nem dar certo.
               - Conta, conta! – implorou Anna – não me mate de curiosidade.
               - Se tudo der certo vocês poderão ler no site.
               - Tá de sacanagem! – Renan também mostra interesse – Agora que começou, termine.

Voltaram a andar, agora mais lento. 

               - Bem, é apenas uma hipótese. Soube que no início do século passado uma locomotiva a vapor despencou numa grota e nunca foi retirada.
               - E você sabe onde ela está? – perguntou Renan.
               - Como disse, é apenas um palpite. Talvez tenha sido retirada, talvez esteja enterrada debaixo de toneladas de pedras ou consumida pela ferrugem. Pode nem existir e tudo não passar de boatos.
               - Você sabe ou não? – Anna ficava impaciente com tanto suspense.
                 - Soube que caiu num precipício na entrada do túnel nº 6, mas só poderei confirmar depois de descer para ver com meus próprios olhos.

Aproximavam-se da entrada do velho caminho do Itupava que sobe a serra e por duas vezes cruza com a ferrovia. Tornaram-se pensativos e Aldo sabia que plantava uma forte semente de curiosidade na mente dos três jovens. Era uma isca muito poderosa e Aldo, dez ou quinze anos mais velho e experiente que o trio, sabia manipular emoções como ninguém. Despediu-se e seguiu em passo calculadamente lento pela trilha do Itupava. Pouco tardou para ser alcançado por um esbaforido Oscar que foi correndo a seu encalço.

               - Aldo, espere – respirou com as mãos nos joelhos – podemos te acompanhar?
               - Cara, nem sei se de fato esta Maria Fumaça existiu. Vocês podem perder todo o feriadão procurando um fantasma.
               - Claro, sabemos disto – assumiu o risco – mas o importante é procurar, conhecer novos lugares. Isto que é aventura!
               - Por mim tudo bem, desde que não me culpem se não acharmos nada. O mato é imenso e tem lugar para todos. Vou indo devagar para não esfriar os músculos e vocês me alcançam, não tem como errar.

Oscar correu até o início da trilha para chamar os companheiros enquanto Aldo apressava os passos para valorizar sua fama de montanhista intrépido e veloz. Convenientemente se deixou alcançar observando a paisagem sobre a ponte pênsil, no cruzamento com o Rio Taquaral. 

               - Conhecem as ruínas do posto de cobrança do pedágio?
               - Ruínas? Pedágio? – se admiraram.
               - Já se cobrava pedágio no tempo do Imperador. Venham ver isto.

Adentrou algumas dezenas de metros pelo bosque e afastou algumas trepadeiras com uma vara. Por toda a parte surgiram pequenos muros de pedras empilhadas. Raspou o chão afastando folhas mortas e retirando uma camada superficial de húmus expôs o verdadeiro extrato de cacos de telha ainda identificáveis como tal. Depois de cruzar com o Rio São João por sobre a segunda ponte pênsil, igualmente afastou a vegetação rasteira e resgatou telhas cerâmicas quase inteiras do solo úmido. Anna se encantou com os achados arqueológicos, apesar da pobreza do que sobreviveu das velhas edificações.

               - Você sabe o que era isto? – a curiosidade matou o gato – Conte!
               - Nossos índios até onde se sabe pouco se interessaram pelos altos cumes, mas conheciam muito bem as ricas canhadas entre as serras. A Trilha do Itupava era por eles percorrida desde tempos imemoriais quando desciam a serra no verão para mariscar no litoral e retornavam ao planalto para se alimentar de pinhões no inverno.

Sentia prazer em contar histórias.

               - Uma antiga lenda conta que a descoberta da trilha se deve a caçadores em perseguição a uma anta no alto da serra para finalmente conseguirem abate-la nas imediações de Porto de Cima onde o Rio Nhundiaquara se tornava navegável para as canoas de um só pau. Certamente usaram arcos e flechas para matar o animal.

Caminhavam pelos intermináveis zig-zags da subida do Cadeado, sujando as botas nos lamaçais e escorregando nas pedras ensaboadas pelo limo das folhas apodrecidas. Mas nada saciava o apetite da Anna por histórias, fábulas e mitos. Demoraram-se por algum tempo no santuário onde explicou que o colonizador europeu não demorou a aprender com os indígenas os segredos desta vereda que só permitia o tráfego de pedestres em função dos imensos precipícios em paralelo ao leito do Rio Piranguçu. 

               - Carregavam suas cargas nas costas, à maneira índia até o período Pombalino quando se separam as coroas de Portugal e Espanha. Os portugueses iniciaram a corrida colonizadora para oeste empurrando os espanhóis para o outro lado do Rio Paraná. O Tenente Coronel Afonso Botelho Sampaio foi designado para a missão e na impossibilidade de passar seus canhões pela trilha original se vê obrigado a melhorá-la abrindo a passagem no Morro do Cadeado à custa de muita pólvora de suas munições de guerra. 

Só omitiu que toda a tropa foi trucidada pelos índios ao chegar aos sertões de Guarapuava.

               - Assim se iniciou o tráfego com tropas de muares que cresceu continuamente com o desenvolvimento do comércio entre Curitiba e o litoral, mas os cascos das mulas cavavam a terra e provocavam imensos atoleiros obrigando as autoridades ordenarem o calçamento da trilha e estabelecer praças de pedágio para arcar com os custos de manutenção. O último e maior deles se fixou entre os rios São João e Itupava onde encontramos as ruínas dos alicerces.

Esperaram pacientemente até uma composição ferroviária subir a serra certificando que encontrariam os trilhos desimpedidos a frente. Afastaram-se antes que um grupo de turistas, cujas vozes já se ouvia ao longe, chegassem também ao santuário. Aldo desejava manter em segredo sua Maria Fumaça até realmente encontra-la e publicar seu relato. Ser o primeiro era questão de honra e merecimento para ele que pesquisou o assunto.  Não deixaria pistas para a concorrência caso o destino não os favorecesse naquela data. Partilhando o segredo e plenamente unidos numa equipe de exploração, todos entenderam a natureza da coisa e se mantiveram em silêncio até o fim do túnel nº7 por mais custoso que fosse a Anna. Período de vaca amarela que causou indisfarçável satisfação ao Renan já cansado de papo furado.

Encaravam uma grota incrível e por mais que procurassem não encontravam uma rota segura para descer até o fundo onde poderia estar a locomotiva. Seria necessário usar de equipamentos para rapel, talvez vários lances em seqüência e nenhum deles estava equipado com o material necessário.

Nova decepção na outra ponta do túnel ao se depararem com um segundo precipício.

                - Na entrada do túnel seis subindo ou descendo a serra? – Anna se queixava de forma inconsolável - Mas você nem imaginou a necessidade de rapel?
                - Vim apenas explorar o lugar e mesmo com meu equipo completo levaríamos o dia todo para descer os quatro até o fundo desta grota. Poderíamos dividir a corda, mas todo o resto é equipamento pessoal.

Teriam que voltar em outra ocasião com cordas, arnês, freios e mosquetões.

               - Magoei! – insistia Anna – Já estava me sentindo dividindo a cena com Indiana Jones e agora voltamos a farofagem no Marumbi.
               - É um pouco longe daqui, mas conheço um lugar com os restos de um avião de passageiros - Aldo surgiu com nova idéia - e para chegar lá não precisa mais que duas boas pernas se servir de consolo.
               - Longe, quanto? – perguntou Oscar um pouco desconfiado.
               - Programa para o feriado inteiro, mas faz a travessia da serra e passa por lugares incríveis. É coisa para entrar pra história. No acidente só sobreviveram dois dos vinte e cinco e vi uma turbina, o trem de pouso e um monte de pedaços espalhados. Procurando vamos encontrar muito mais coisas.

Caminhavam pelos trilhos em direção a Estação Marumbi cruzando pelo túnel cinco e o trem os encontrou na metade da Ponte São João. Os túneis e as curvas os impediram de ouvir a composição se aproximar e tomados de surpresa ficaram sem alternativas.  Correr pelos dormentes não era opção e sem tempo hábil para retornar ou avançar seguiram as instruções do Aldo para se pendurar para fora da ponte agarrados nos perfis metálicos. Ouviram de passagem um bom xingamento do maquinista que com as mãos manifestava toda sua indignação pelo encontro imprevisto.

O sucesso da manobra e a injeção de adrenalina os motivou pelo resto da estrada. Sentiam-se invencíveis e aptos a enfrentar qualquer desafio. Nas proximidades do Rio Taquaral Aldo os alertou que era preciso tomar uma decisão porque o avião se encontrava em área intangível do parque onde por lei era proibido entrar. 

Em meados dos anos 90 foi criado o Parque Estadual do Marumbi com leis rígidas e plano de manejo que proíbe até hoje o acesso dos esportistas para toda a parte central destas serras. Com o parque também surgiu uma legião de dedos duros que se julgam mais iguais entre os iguais na proteção das pererecas e sapos cururus que hipoteticamente habitam estas regiões consideradas intangíveis. Caso optassem pela travessia não poderiam dar as caras na estação sob penas de multa e até processo por invasão. Teriam que sair da estrada de ferro e subir o rio para evitar os controles.

A inundação de adrenalina e a rebeldia da juventude falaram alto novamente. Desceram da estrada e seguiram pelo leito de pedras do rio até encontrar a trilha principal que escala a montanha do Marumbi. Por pouco mais de um quilômetro trilharam por terreno conhecido, mas na cachoeira dos marumbinistas Aldo os alertou que seguiria a direita para longe da trilha principal e teriam que se decidir. Fariam a travessia ou subiriam mais uma vez a velha e conhecida montanha para depois vagabundear pelo camping até o fim do feriado? 

O tema colocado desta maneira incitava os brios da molecada e apesar do receio do desconhecido latejava ardente o desejo pela inusitada aventura.

Continua no capítulo 2 - A CACHOEIRA DOURADA


terça-feira, 28 de abril de 2015

Dia do Empregado Doméstico

Por Léa Bortolon

Dia 27 de abril é celebrado o dia do Empregado Doméstico, O INDDIC  Instituto Nacional de Defesa dos Direitos do Cidadão, está lançando uma campanha voltada a essa classe de trabalhadores, com o objetivo de orientar essa classe sobre seus direitos e deveres, entre elas o direito à carteira assinada e a remuneração de, no mínimo, um salário mínimo.

Os direitos e deveres dos domésticos foram estabelecidos pela Emenda Constitucional 72, aprovada e promulgada pelo Congresso Nacional em 2013, conhecida como PEC das domésticas, entre os direitos estão, por exemplo, trabalho com carteira assinada, jornada de trabalho, seguro-desemprego, indenização por demissão sem justa causa, conta no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, pagamento de horas extras, adicional noturno, seguro contra acidente de trabalho e jornada diária de 8 horas. Na a proposta principal, há alguns benefícios que dependem da normatização para entrar em vigor. 

A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 72, alterou a redação do parágrafo único do art. 7º da Constituição Federal, estabelecendo a igualdade de direitos trabalhistas entre os trabalhadores domésticos e os demais trabalhadores urbanos e rurais.

Foi uma conquista a essa classe de trabalhadores. O Brasil tem o maior número de empregados domésticos do mundo, com 7,2 milhões de trabalhadores. Desse total, 6,7 milhões são mulheres e 504 mil homens. Ainda segundo o relatório, 17% das mulheres inseridas no mercado de trabalho são empregadas domésticas. No entanto, mesmo sendo maioria, as mulheres ainda ganham menos que os homens que desempenham a mesma função.

Enviado por MSN Facebook de Lea Piraquara 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Veículos Roubados são deixados no Caminho Trentino


Colaboração Daniel Pinheiro

quarta-feira, 22 de abril de 2015

O Dia da Terra

Léa (Facebook)


O Dia da Terra foi criado pelo senador americano Gaylord Nelson, no dia 22 de Abril de 1970. A data tem como objetivo principal criar uma consciência comum entre as pessoas, em relação à conservação da biodiversidade e outras preocupações ambientais para proteger o planeta.


NO DIA MUNDIAL DA TERRA – 22 de abril, o INDDIC – Instituto Nacional de Defesa dos Direitos do Cidadão convida você cidadão, a participar de atividades que promovam a saúde do nosso planeta, seja em nível global, regional ou local. Como você pode participar? 

Plante uma árvore (ah, não dá, você mora em apartamento? Então plante uma flor em um vaso). Caminhe ou vá de bicicleta, em vez de ir de carro, você estará evitando um monte de CO2 no ar.Mas se não tiver jeito, e precisar ir de carro, seja paciente, não se irrite, não buzine, porque isto só faz subir sua pressão arterial e causar poluição sonora. Comece uma horta no seu quintal, se tiver. Separe com cuidado o material reciclável. Feche bem as torneiras. Apague as luzes e desligue a TV na sala onde não tem ninguém. Compre alimentos orgânicos e evite alimentos industrializados. Cozinhe ou peça pra quem vai cozinhar que utilize um pouco menos de arroz, pra que não sobre e acabe no lixo. Invente uma nova receita com as sobras do jantar de ontem. Se estiver na rua, procure a lixeira mais próxima pra descartar corretamente o lixo. Demonstre mais amor aos filhos da Terra (todos nós). Ajude um cachorrinho ou um gatinho de rua a acharem um novo lar. Faça uma atividade física. Vá a um parque com sua família e contemple o verde. Reforme, ou melhor, customize uma roupa que já não usa. Doe para alguém necessitado aquela roupa que definitivamente não vai mais usar. Assine uma petição pedindo aos governantes que cuidem melhor do meio ambiente.
Tem mais sugestões? Compartilhe essa ideia.

Colaboração de Léa Bortolon via mensagem Facebook para Antonio Sávio

terça-feira, 21 de abril de 2015

Hospital de Piraquara fechado e Centro Esportivo Abandonado!! Por quê?





Daniel Pinheiro, presidente da Associação Pinheiro Amigos da Serra da Melança, buscando melhorias para a cidade de Piraquara, através desses  vídeos tenta chamar a atenção e responsabilidade do poder executivo para a conclusão das obras estão paradas ou abandonadas, e ainda, para a necessidade que a população tem da urgente reabertura do único hospital da cidade,  que foi fechado por falta de verbas.

Colaboração Daniel Pinheiro

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Bonequeiras sem fronteiras na Aldeia Araça-i em Piraquara

Por  Marcia Cristina Tampellini

As Bonequeiras sem Fronteiras continuam viajando para os mais diversos lugares do Brasil.

Hoje,   contamos um pouco como foi a nossa ação na  Comunidade Indígena - Aldeia Araça-I, em Piraquara-PR.

Desde dezembro já tínhamos os bonecos destinados a essa entrega. A tradicional foto da escada cheia de bonecas recheadas de amor  está na foto abaixo :

Mas a combinação chuva/estrada ruim fez com que adiássemos mais de uma vez a nossa ida à comunidade.

Até que, mesmo com lama na estrada nossas bonecas conseguiram chegar à comunidade, com a ajuda preciosa de voluntários que não fazem parte do nosso grupo, mas igualmente levam abraço e doações a quem precisa E, como sempre, foi mais um dia de emoção.

Nossas bonecas não são embrulhadas em belos pacotes de presente. Não é descuido. As crianças precisam ver muitos bonecos para decidir qual escolher.

Nossa sacola de presentes

As crianças se divertem na hora da escolha e, com certeza, os adultos também

E é preciso "testar" o brinquedo

E, quando o boneco é escolhido é só alegria!


Felicidade das crianças e dos adultos também!

Gratidão ao Daniel Rebello pelas imagens e à Ana Caroline  e voluntárias que levaram as bonecas enfrentando uma estrada difícil e muita lama.

Bonequeiras sem Fronteiras. Bonecas de pano, amor de verdade

Fonte Bonequeiras sem Fronteiras 15/04/20125