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terça-feira, 27 de junho de 2023

Susto em Piraquara colisão em posto de combustível

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Na noite de terça feira 26, um acidente envolvendo um veiculo e uma moto deixou os transeuntes preocupados.

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FRANGO AMERICANO - PIRAQUARA

Segundo informações enviadas ao O Piraquarense pelo WhatsApp um veiculo adentrava ao Posto Ipiranga, na esquina da Av Getulio Vargas com a Rua Elvira Lorusso do Nascimento em Piraquara, e passou por cima de uma moto que estava nolocal.

Não se sabe se por pressa ou por descuido o acidente aconteceu. Sabe-se que o motociclista ficou ferido moderadamente e foi atendido pelo SIATE e levado ao atendimento de Pronto Socorro.

Fonte WhatsApp do O Piraquarense

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sábado, 27 de julho de 2019

E os Humanos?

Rogério Distéfano

EM ENTRERIOS, oeste do Paraná, começa-se a usar eletricidade produzida por estrume de porcos, inclusive para a iluminação pública e privada. O governador Ratinho Jr. esteve lá e inaugurou, não sem grande entusiasmo, a central de produção. E a Copel, nada?

ALI, no caminho para Piraquara, há imensos tanques da Sanepar que selecionam dejetos e depuram a coleta do esgoto, como as inevitáveis pitucas de cigarro que acompanham o ato dejetal. Por que não aproveitar, como em Entrerios? Só os porcos têm eletricidade no estrume?

Fonte  O INSULTO DIÁRIO

Leia as ultimas sobre Piraquara


sábado, 13 de julho de 2019

QUERO ME CANDIDATAR NA PRÓXIMA ELEIÇÃO, O QUE JÁ DEVO FAZER?


Mal saímos de uma eleição e já no ano que vem, 2020, teremos eleições municipais e para isso, quem pretende se candidatar a uma cadeira deve ficar atento, pois houve muitas mudanças nos últimos anos nas legislações eleitorais.

Já nos acostumamos de que quando está próximo às eleições os pré-candidatos ou quem pretende lançar uma candidatura ficam em um alvoroço. Muitos já começam com uma pré-campanha, para dar visibilidade ao nome, então passa a participar de projetos que farão com que seu nome se torne conhecido, mas quando vai registrar a candidatura descobre que sua filiação ao partido foi feita fora do prazo estabelecido pela lei e, isso o impede de ser candidato.

Mas tem um prazo para estar filiado no partido? Sim, tem prazo para estar filiado a um partido político antes da eleição, a não filiação ou a filiação fora do prazo, impede a disputa do pleito.

Lembre-se também, que há prazo para mudar o domicílio eleitoral para o município a que pretende o cargo.

Questão importante é em relação a idade mínima para se candidatar ao cargo almejado:

a) 35 anos para Presidente ou Vice e Senador;
b) 30 anos para Governador ou Vice;
c) 21 anos para Deputado, Prefeito ou Vice;
d) 18 anos para Vereador.

Trouxe assim, apenas alguns requisitos para você que tem interesse em disputar a próxima eleição ir se preparando, demais requisitos um advogado deverá lhe orientar, principalmente porque agora é obrigatória a contratação de advogado para acompanhar o candidato na prestação de contas, bem como um contador.

Importante por fim destacar, que os serviços advocatícios não mais podem ser doados, conforme preceitua o Código de Ética e Disciplina da OAB.

O Escritório Wanderley Neves, atua em diversas áreas do direito e tem profissionais capacitados para orientá-lo. (041) 3673-5566 – WhatsApp 98456-0357.


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Olá amigos venho através deste post pedir a ajuda de vocês.

Lembram da menina, essa senhorinha da foto....  Sua antiga madrinha disse que não vai mais ajuda-la, há cerca de um ano parou de pagar o hotel e estava ajudando apenas com a ração.

A solução dela era devolvê-la na rua após morar aqui por mais de dois anos, gostaria de lembrar que quando você resgata um cão da rua ele depende de você para sempre ou até encontrar uma família. Após dois anos não vou deixar essa idosinha voltar pra rua.

Eu alimento 9 cães e vou assumir os seus gastos com a ração mas o valor do seu hotel é de R$ 150. Como temos 20 lares temporários morando aqui precisamos da mensalidade das madrinhas para pagar os funcionários, dar continuidade nos tratamentos, vacinas e gastos no geral. 

Então estou à procura de uma madrinha comprometida em ajudar, se você quer ajudar mas não pode adotar ou já tem muitos dogs, ajude mensalmente com qualquer valor apadrinhando um anjo
Venha falar comigo aqui no PET, Facebook ou pelo waths 99960-2992. 

Ela não merece ser abandonada mais uma vez... Desde já agradeço sua paciência com meu textão. Att tia Ana

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Indignado Pai Denuncia atendimento da Secretaria de Saúde de Piraquara no Facebook

No dia 31-07-2018 , minha filha Sofia de 08 anos , com problema no joelho , foi levada até a UPA de Piraquara onde foi atendida . O médico de plantão pediu pra que fosse feito raio x para avaliação . Então no dia 01-08-2018 pela manhã eu levei a Sofia para fazer o raio x e voltamos a UPA para reavaliação. Era outro médico já que teve troca de plantão . O médico após verificar o raio x e ver a situação da menina que não podia se quer movimentar a perna , devido a dor , dirigiu se a mim e disse que era necessário a avaliação por um ortopedista . Então o médico foi até a coordenadora da UPA e voltou com uma guia em mãos , onde eu deveria levar minha filha no dia 07-08-2018 até a cidade de Campo Largo , no hospital São Lucas para uma consulta com ortopedista de nome , Dr. Adilson . 

Alguns dias tomando ibuprofeno receitado para aliviar os sintomas , chegado o dia 07-08-2018 eu e minha filha fomos ( usando transporte público e táxi ) até o hospital São Lucas em Campo Largo. Chegando lá às 7:40 da manhã já que saímos de Piraquara às 05:15 (ainda noite).

Logo ao chegar no hospital havia uma fila para consultas com aproximadamente 40 pessoas. Então fui até o balcão de atendimento e mostrei a guia com o nome do tal Dr. Adilson , foi quando a recepcionista disse que minha filha não seria atendida pois a coordenadora da UPA de Piraquara não fez o agendamento e que mesmo sendo agendado não teria possibilidade de atendimento , porque o Dr. Adilson é especialista em mãos , sendo que o problema da minha filha é no joelho.

E por causa de uma irresponsabilidade , de uma falta de respeito com uma criança ( minha filha) e comigo (seu pai) , não nos restou fazer outra coisa , senão virar as costas e retornar a Piraquara sem atendimento.

Um descaso , uma falta de respeito , um abuso , uma falta de profissionalismo , que me levou a relatar o caso na vara de infância de Piraquara e posteriormente na ouvidoria da Secretaria de Saúde de Piraquara... esperando a punição devida ao responsável por essa BRINCADEIRA DE MAU GOSTO ...



Colocamos este espaço para para que a Secretaria Municipal de Saúde se pronuncie caso tenha interesse.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Confirmado Hospital de Piraquara vai voltar a Funcionar

Depois de alguns boatos que rolou na cidade de que os novos investidores haviam desistido de abrir o Hospital de Piraquara, estive conversando com um vereador da base de apoio político do prefeito Marquinhos.

Em conversa com o vereador (que não quis se identificar), o mesmo informou que tudo está dentro do cronograma elaborado pelos novos proprietários do hospital. "As obras estão sendo orçadas e a execução começa em breve e deve seguir em ritmo acelerado", assegurou.

O edil disse ainda que a princípio será feito toda reforma do prédio, atendendo todas as exigências da Vigilância Sanitária. A informação é corroborada pela nota do Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (GAMP), que ficará responsável pela gestão operacional do hospital.

"A parceria, que envolve um grupo de investidores que comprou o Hospital de Piraquara, prevê a realização de uma ampla reforma na unidade, pois a mesma está fechada desde dezembro de 2014. Os investimentos que serão feitos no hospital já estão assegurados e serão aplicados em etapas. O objetivo é deixar a unidade apta à prestação de serviços de média e alta complexidade para o município e o estado, além de reservar leitos para atendimento via convênios e particular", diz a nota do grupo GAMP, em seu site oficial.

Conforme o vereador, informações buscadas junto á Secretaria de Saúde do município, a previsão é de até o final do ano, há a perspectiva de que seja aberto o setor de Pronto Atendimento do hospital, um dos setores de maior carência na área de saúde da cidade. "Claro, tudo vai depender do andamento das obras de melhorias no prédio".

O legislador informou ainda que como os novos proprietários pretendem abrir o hospital em etapas, :é bem provável que até os meados do segundo semestre do próximo ano, o hospital esteja funcionando todos os seus setores, atendendo normalmente a população de Piraquara", prevê o vereador.


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

5 sinais de Depressão e Anciedade



Este vídeo está postado em várias redes socias o que é estranho nele e a falta de autoria parece sempre ser replicado.  Assistindo e como leigos no assunto podemos dar total credibilidade ainda mais como vem em forma de alerta.

Convite

Se Algum profissional de Saúde Mental puder e quiser fazer ou publicar um artigo para atualizar este post por favor entre em contato

Antonio Sávio

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

CHAMINÉ Um pouco mais sobre Piraquara

Jefferson Favoreto Klass, comenta sobre chaminé que emerge do meio da represa em Piraquara

Imagens Trilha Morro do canal, Morro do Vigia e Torre Amarela

Nossa primeira trilha: Morro do canal, Morro do Vigia e Torre Amarela.Piraquara Julho - 2017, Paraná - Brasil. Imagens incríveis,  Averntura garantida


Fonte Singrid Oliveira Publicado em 6 de ago de 2017

sábado, 5 de agosto de 2017

Redes Sociais expõem crianças à sequestro

"Sávio vc tem um blog ne. Queria te deixar uma sugestão. Esta acontecendo com frequência supostos sequestros de crianças ou tentativas..... Se você pudesse deixar alertas para as maes q postam fotos dos seu filhos em redes sociais.  Seria muito interessante. Eu tirei todas as fotos dos meus netos. 

Porque isso se torna um veiculo perigoso para os bandidos especularem sobre a vida desses pais tal como as rotinas,  lugares onde frequentam etc."(Simone Mendes )

Essa mensagem recebo pelo Messenger de nossa amiga Simone Mendes que preocupada com os recentes fatos e ameaças de sequestro de crianças pede para fazer um alerta aos pais.

Em busca de esclarecer e informar a nossa população buscamos informações em nossos bancos de dados(Internet) encontramos o vídeo abaixo que mostra muito sobre esses casos Assista veja a ação dos sequestradores e tenha paciência para ouvir os policiais. Diante disso faça suas escolhas monitore seus filhos e se monitorem.



De acordo com o próprio sequestrador, as informações divulgadas na internet pelos pais do menino de nove anos foram usadas para planejar o crime. Autoridades alertam para o perigo dos dados publicados nas redes sociais por crianças e adolescentes.


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Colégio Vila Macedo fez as entregas de boletins esta semana

Essa semana foi de entrega de boletins escolares no Colégio Vila Macedo.

Os melhores estudantes, foram contemplados com um certificado, em reconhecimento a dedicação. Além disso, essa medida serve de exemplo aos demais alunos, para buscar sempre o melhor aprendizado.

Na foto, com estudantes do período da tarde!

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Joel gerente se despede do Supermercado Piraquara

É decoração e alma tranquila!!! Que eu estou, me despedindo defenitivamente, DA LOJA PIRAQUARA SUPERMERCADOS.... Fico muito feliz por ter feito parte dessa, super equipe, que transformou uma loja. e com a maior certeza que,honramos o nome da nossa Cidade... (PIRAQUARA ) em termos de qualidade, atendimento, higiene, e acolhimento, com nossos clientes!!! Agradeço muito a todos os amigos,clientes e principalmente a todos os ,colaboradores em geral,que tive a honra em trabalhar e conviver esses 4 anos.... Valeu e logo com a graça de Deus.... estarei em outro estabelecimento, com novos desafios ,e com a maior certezas com os mês mesmos clientes e amigos.... ABRAÇO .  

JOEL DE LIMA

O Boteco

Uma Travessia na Alpha-Ômega

Julio Fiori
A seguir O Boteco, 10º e último capítulo desta história escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.


Leia antes os capítulos: 1 -  A MARIA FUMAÇA,  2 -  A CACHOEIRA DOURADA,   3 -  A TRILHA,   4 -  O SOCORRO,   5 -  A ALDEIA,  6 -  A TEMPESTADE,  7 - O ACAMPAMENTO FANTASMA,  8  -  O AVIÃO DA SADIA  e 9 - A TRAVESSIA.



- Quer dizer que o porteiro já foi chegado na cachaça? - perguntou o velho montanhista.

- Esta é outra história, ele nem era nascido quando caiu o avião - respondeu Dirceu - Este senhor que acabou de passar é que reencontrou os destroços alguns anos atrás e me deu estas fotografias.

- Acho que do avião sei mais do que ele. Em 1967 ajudei no resgate das vítimas.

- Verdade????

- Com muito trabalho conseguimos resgatar 4 pessoas com vida, mas o caso é que uma delas nos processou depois. Além de trabalhar de graça ainda gastamos com advogado.

Dirceu cresceu a sombra do Morro Negro assombrado por aquela tragédia e não cansava do assunto desde que ganhara um álbum com a história e as fotos dos destroços.

- Depois de sair do hospital nos acusou de termos roubado suas jóias.

- E vocês roubaram?

- Eu não roubei nada e acho que os outros montanhistas também não, mas o lugar fervilhava com bombeiros e curiosos. Qualquer um poderia ter pego.

- Melhor perder os anéis que a vida! Isto aqui ficou igual depois daquela tempestade no ano passado. Não tinha mais lugar para tanto carro de bombeiro no pátio e nunca vendi tanto pastel nesta lanchonete.

- Realmente parecia o fim do mundo! A Serra da Prata quase veio abaixo.

*****
Passada a tempestade chegou a primeira viatura e os bombeiros entraram no mato preparados para uma guerra. Vasculharam cada canto dos primeiros morros sem encontrar nenhum sinal dos garotos perdidos e depois se internaram na serra. No final do dia já haviam mais duas viaturas e uma ambulância no pátio.

*****
- Encontraram um rapaz bastante ferido atrás dos morros e não tinha mais lugar na lanchonete pra tanto curioso. A coisa durou a noite toda e na madrugada já não tínhamos mais nada o que vender, nem café. Limparam as prateleiras!

*****
Aldo jazia pelado e desacordado na metade da subida do morro da Ferradura quando os bombeiros o encontraram depois de vasculharem todas as inúmeras trilhas dos morros Canal, Vigia e Torre Amarela. O adiantado da hora inviabilizava o resgate pelo ar e chamaram reforços por terra. Os paramédicos foram os primeiros a chegar com a maca e o grupo da pesada chegou logo em seguida com foices e facões. Trabalharam a noite toda para descer pela Torre Amarela e alcançar a ambulância já bem próximo do amanhecer.

*****
- O rapaz ainda estava vivo?

- Estava sim senhor! Passou aqui amarrado numa tábua e todo embrulhado em papel alumínio. Disseram que tinha levado três pontaços de faca nas costelas e passado toda a chuva no relento. Verdadeiro milagre!

- Então tudo acabou bem!

- Nem tudo. O engraçado é que não era este cara que estavam procurando, nem sabiam da sua existência. Continuaram vasculhando os morros por outros dois dias inteiros atrás da moça e do outro menino. Depois mudaram as buscas para a Estrada dos Mananciais e por fim acho que desistiram.

- Desistiram sem encontrar ninguém?

- Isto nunca soube, mas por aqui não passaram.

- E qual o problema do João? - insistiu o velho.

- O João cismou que a mulher enfeitava a cabeça dele com chifres! Que o filho era de outro, estas histórias. Desceu a beber sem parar e descascar a cinta na patroa. Tanto aprontou que botaram ele pra fora da aldeia e com pena o deixei morar uns tempos no paiol.

- Você disse que parou de beber.

- Virou crente como quase todo mundo por aqui depois que depuseram o cacique da aldeia que fugiu exatamente com a mulher dele, mas pelo que sei já está de volta. Até parece uma epidemia!

- Epidemia?

- Todo mundo esta virando crente, parando de beber e pregando a palavra o tempo todo.

- Quem voltou, a mulher ou o cacique?

- A Maria e o menino! O cacique vai ficar por bom tempo com cama e comida grátis na colônia de férias em Piraquara.

- Porque fugiu com a mulher do João?

- Não! Pegaram ele numa oficina de desmanche, mas jura que é inocente.

- Só tem inocente na prisão e em Brasília ninguém nunca sabe de nada!

- E o que o senhor tanto escreve neste caderninho? - Dirceu já estava curioso.

- Ah! Isto é um velho costume alemão. Anotar tudo para não esquecer.

- Então anota aí que meu falecido avô sempre dizia que estes morros são assombrados! 

Fim

A Travessia

Uma Travessia na Alpha-Ômega

Julio Fiori
A seguir A Travessia, 9º capítulo desta história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

Leia antes os capítulos: 1 -  A MARIA FUMAÇA,  2 -  A CACHOEIRA DOURADA,   3 -  A TRILHA,   4 -  O SOCORRO,   5 -  A ALDEIA,    6 -  A TEMPESTADE,  7 - O ACAMPAMENTO FANTASMA  e  8  -  O AVIÃO DA SADIA.



Noite terrível aquela. Havia uma sombra esperando no limiar do bosque. Esperava olhando para a barraca com seus olhos verdes e maus. Ficou lá a noite inteira. Anna imaginava que esperava por ela. Dormiu pouco naquela noite com a sombra a vigiando e ela a vigiar a sombra. Faltava coragem para sair da barraca e se limitava a olhar pela fresta da porta. Besteira imaginar que aquela fina camada de nylon poderia proteger alguém de qualquer coisa. Nem da chuva isolava a contento. 

Talvez fosse o riacho. A sombra movia-se bastante, mas sempre conservava respeitosa distância do riacho. Na dúvida preferiu não arriscar, mas foi perdendo o medo com o avançar da madrugada. Começou a sentir alguma segurança no seu lado da água e tinha também uma voz interior. Na verdade não se parecia em nada com uma voz falando com ela. Se começasse a ouvir vozes saberia que estava enlouquecendo.   

Era algo como uma idéia vaga, algum conhecimento que nunca imaginou ter e crescia continuamente dentro da mente. Começou bem confuso no meio da madrugada, no auge do terror, e foi tomando corpo com o passar das horas. 

"A escuridão é mais profunda nas horas que antecedem o amanhecer" – Não cansava de repetir.

Crescia o desejo de lavar o corpo sujo de sangue e barro naquela água transparente. Deixar a água corrente limpar as dores do espírito e arrastar todo o mal da sua vida pregressa até alguma cachoeira que certamente existiria abaixo. Destruí-lo batendo contra as pedras até só restar a espuma de imaculada brancura. 

A luz ainda esmaecida e difusa da aurora iniciou sua luta suave contra as sombras do bosque e os pássaros iniciaram suas cantorias muito antes disto. Desceu ao riacho com os primeiros raios de sol cortando, inclinados, a cobertura das árvores. Começou pelas roupas, peça a peça, mergulhando na água gelada e esfregando na areia até desaparecerem todas as manchas de sujeira. Um cipó pendente serviu perfeitamente como varal improvisado.

Ao corpo dedicou mais tempo e atenção. Deitou-se onde a profundidade era maior e deixou a água correr livremente antes de atentar para os detalhes. O corpo acostumou-se com a temperatura da água e sentiu imenso prazer com aquele carinho. 

Ainda notava a presença daquela entidade maligna a espreita nas sombras do bosque, mas o calor do sol e a companhia de pequenos e curiosos beija-flores a enchiam de coragem para desafiá-la desfilando nua fora da barraca. Estava purificada pela água, livre de pecados como Eva no paraíso.

O ar puro entrava e saia dos pulmões com leveza inusitada e se admirou com pequenas coisas que nunca antes havia percebido. A brisa fluindo pelas curvas do seu corpo, o calor agradável dos raios de sol se concentrando em diferentes partes. Enquanto iluminava intensamente alguns detalhes do entorno também escondia outros e novas perspectivas, contornos e volumes apareciam e sumiam a cada instante. 

Sua visão, olfato, audição e tato estavam extremamente sensíveis e aos poucos percebeu algo muito diferente na clareira da barraca. Primeiro reparou uma distorção da imagem, quase uma lente transparente entre seus olhos e alguns objetos, depois começou a distinguir os contornos destas lentes. Contou sete bem definidos e em circulo a sua volta com os braços levantados, apontando para o alto e para o centro.

Estranhamente não sentiu medo ou apreensão e nem tentou qualquer contato, muito depois concluiu que proporcionaram boa parte de sua tranqüilidade naquela tarde.

De fato eram sete e estavam em constante movimento, mas cada um era de alguma maneira único e transmitiam alguma mensagem que lhe era difícil compreender apesar de todo seu esforço. Desapareceram todas suas necessidades físicas e angustias e sua mente parou de viajar, os pensamentos foram se desvanecendo num suave vazio até desaparecerem totalmente. 

Percebeu que novas entidades, por falta de outra definição melhor, desciam do alto da montanha e substituíram as anteriores numa espécie de rodízio. O processo se repetiu por três vezes com grupos de sete elementos distintos e sempre transmitindo uma mesma mensagem que ia se tornando cada vez mais clara dentro da sua mente vazia até preenchê-la inteiramente.

"Deus é força inteligentíssima que se detém dentro de mim, dentro de tudo e todos como ponto de chegada e eu instrumento seu para a beleza e a paz. Aliado a meu anjo guardião pelo amor, atraio da substância do Senhor todas as riquezas mentais da inteligência, espirituais da simpatia e materiais do bem estar físico e econômico para minha completa felicidade evolutiva e para que eu também coopere com as pessoas de virtude para a felicidade maior de toda a humanidade. Obrigado Senhor pelos benefícios que recebo agora para dar e embelezar, amar e apaziguar. Adormeço em Vossa infinita sabedoria".

Despertou apenas na manhã seguinte com uma fome de leão e calculou que estava em jejum por vinte e uma horas seguidas. Durante este tempo nem pensou em comida, medo ou qualquer outra coisa diferente daquele mantra, mas então comer se tornava urgente. Durante a refeição já estava novamente conectada ao mundo físico e imaginou toda a angústia que sua mãe deveria estar passando nestes dias todos sem notícias. 

Não sabia precisar exatamente quantos dias haviam se passado desde seu último contato. Deveria estar desesperada. Revisou toda sua vida e fez promessas para o futuro. Este seria seu segundo e definitivo nascimento.

O sol pleno novamente iluminava todo o bosque e não havia mais o menor traço das sombras ameaçadoras que tanto a aterrorizaram. Atrás da barraca cavou um buraco com a ponta do facão e queimou o saco de dormir e algumas poucas peças de roupa ainda sujas de sangue. Jogou todo o fumo nas chamas e esperou o fogo e a fumaça se extinguirem para cobrir tudo com terra. Guardou na mochila só o que era seu e pendurou o restante no varal, mas para onde ir?

Andou até o riacho e viu que não estava mais sozinha. Na pequena praia de areia, pouco acima, um cachorro do mato saciava a sede despreocupadamente. Colocou-se em alerta ao vê-la e ficaram parados se contemplando por um bom tempo. Talvez dois ou três minutos e deu alguns passos para trás sem se descuidar dela e então se virou e calmamente seguiu para o mato. 

Sem idéia melhor e por puro instinto tomou a mesma direção. Passaram por extenso trecho com enormes e afiadas pedras sobrepostas desordenadamente, umas sobre as outras por entre troncos podres, limo e muita umidade, depois entraram na mata densa e rasteira com taquaras e samambaias. 

O animal prosseguia calmamente a sua frente sempre mantendo uma distância segura e por momentos lhe pareceu que a esperava olhando sua dificuldade em segui-lo por aquele terreno difícil. Vagarosamente subiam a montanha até que desceu um barranco e sumiu no mato. Anna ficou confusa e desorientada ao perder a referencia completamente insólita, mas mesmo assim referencia. 

Observou atentamente ao redor ainda à procura do amigo e no tronco de uma árvore encontrou uma fita adesiva amarela, caminhando até ela conseguiu ver outra mais adiante e se descobriu numa trilha. Os rastros a conduziram a um cume bastante extenso e arborizado e depois desceram a encosta oposta até uma descida d'água quase vertical. Estranhou sua coragem e determinação ao descer pela cachoeira agarrada em raízes aéreas e trepidantes. 

No fundo do vale acompanhou o riacho por alguns metros e reencontrou a trilha subindo a montanha seguinte. A subida foi difícil e exigente lhe obrigando a manobras de contorcionista, mas sobre uma pequena pedra no cume pode ver a próxima montanha muito perto e grandes extensões da represa abaixo.

A floresta se tornou magnífica e a inclinação suave, muitos pássaros a acompanhavam curiosos quando cruzou o riacho no fundo do vale. Os rastros se firmaram e viraram uma verdadeira trilha facilmente identificável com algumas fitas marcando as árvores. Saiu da floresta diretamente num mirante no momento em que o sol alcançava o horizonte e caminhou por alguns metros sobre a extensa laje de pedra. 

Cenário irresistível e se concedeu ao luxo de apreciá-lo até o final. O horizonte tingido em tons de dourado, a represa banhada em prata e pequenas luzes amareladas já brilhavam aos pés dos morros. Curitiba e arredores cintilavam intensamente num mar de luzes.

Finalmente sua alma estava leve como a brisa que soprava no rosto e o coração totalmente isento de ansiedade. Pouco faltava para concluir sua grande travessia para uma outra vida.


Continua no capítulo 10 - O BOTECO

O Avião da Sadia

Uma Travessia na Alpha-Ômega

Julio Fiori
A seguir O Avião da Sadia, 8º capítulo desta história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

Leia antes os capítulos: 1 -  A MARIA FUMAÇA,  2 -  A CACHOEIRA DOURADA,   3 -  A TRILHA,   4 -  O SOCORRO,   5 -  A ALDEIA,    6 -  A TEMPESTADE  e 7 - O ACAMPAMENTO FANTASMA.



- Hoje só estamos de passagem João, o carro retorna daqui.

O rapaz fecha o portão um tanto decepcionado com o não pagamento da taxa de estacionamento cobrada na porteira do sítio para aqueles que sobem à montanha nos fins de semana e feriados.

- Bom dia Seu Julho! – o sempre amável Dirceu, dono da lanchonete - Estava falando justamente do Senhor.

- Espero que falando bem Dirceu, afinal sou um bom sujeito!

- Só bem, estava mostrando as fotografias do avião. Vai ao avião hoje? Meu filho gostaria de ir também se não atrapalhar.

- Atrapalha não, mas precisará retornar sozinho porque vamos varar a serra até Morretes.

- Então fica para uma próxima vez, é perigoso andar sozinho pelo mato!

- Isto é fato Dirceu, mas o que aconteceu com o João? São quase oito horas e ainda não está de pileque!

- Virou crente como quase todo mundo por aqui e não bebe mais!

- Mas isto é muito bom pra ele!

- Sei não, bêbado ele era mais divertido e enchia menos o saco dos clientes do que agora com a Bíblia na mão. É capaz de fazer falir meu negócio!

- Daí você monta uma igreja e fica rico, prazer em te ver Dirceu, mas precisamos andar. Na próxima vez levo o moleque, um bom fim de semana pra vocês!

Sem mais tempo a perder iniciam a subida do Morro do Canal com as cargueiras nas costas e o sol fritando os miolos. Degraus, pontes e correntes afloram quase que naturalmente das rochas mesmo nas inclinações mais insignificantes. O interessante é que nem toda aquela parafernália artificialista evita os constantes desvios pelas beiradas. Alguns distantes poucos centímetros da pedra toda equipada com degraus de aço. 

Com os músculos ainda frios, apesar do corpo quente, a alta temperatura faz o suor escorrer às bicas e chega àquela sensação de que estão fora de forma, muito aquém do que a situação exigirá mais à frente. Suas mentes são atacadas pela dúvida, mas a experiência os ensinou que basta respirar e caminhar para completar toda e qualquer travessia.

Depois de 40 minutos de escalaminhada chegam ao cume juntamente com um bando barulhento de moçinhas que havia partido sem carga muitas horas antes. Descansam ao sol atormentados pelas moscas e por fim as butucas os puseram para correr em direção a Torre do Vigia pelos labirintos no cume do Morro do Canal até descer numa bonita e profunda greta. 

A montanha parece uma broa partida a faca e o primeiro seguiu para baixo enquanto o segundo procura a trilha na direção contrária e minutos depois, no caminho correto, já descem um paredão vertical de uns doze metros agarrados a uma corda fixa com os pés entalados numa fissura da rocha. Dali ao cume do Vigia foi só um instante apesar da confusão de caminhos que se apresentam e param alguns minutos para respirar apreciando a maravilhosa vista da represa com a cidade esparramando-se até o horizonte. É o último mirante aprazível que terão antes do anoitecer e brindam isto com suco natural de goiaba.

Cruzam por sobre a pedraria e definitivamente se embrenham no mato descendo suave até o fundo do vale, no riacho. Um gole d’água levemente aromatizado com goiaba para espantar a sede e pouco depois passam pelo cume do Ferradura, descendo abrupto pela encosta oposta. No vale escuro e fresco, param para respirar e reidratar com mais calma antes de enfrentar a subida do Morro Negro.

Retomam a linha direta e quase vertical estabelecida numa incursão prévia, escalando por raízes aéreas e terreno instável precariamente preso às pedras na lateral de uma cachoeira por onde corre um fio d’água cristalina. No crux passaram para o centro da cachoeira escalando um 3º grau com botas de trekking molhadas e cargueiras.

O Julio subiu os 4 metros da pedra e jogando a perna direita sobre uma bola de terra sustentada por uma raiz na borda oposta para a última passagem em diagonal sobre a cabeceira da cachoeira, ao largar o apoio, ouviu um estalo e o mundo ficou preto. Desceu ralando pelas afiadas agulhas de quartzo expostas pela ação da água na superfície da pedra, indo descansar os ossos na primeira saliência abaixo, de cabeça para baixo, soterrado por um cobertor de lodo e precariamente entalado numa pequena saliência da pedra que o sustenta para não despencar outro tanto. Esperou imóvel até recuperar o fôlego e o companheiro descer para ajudar a se levantar enquanto via a água tingida de vermelho correr pelo degrau seguinte.

Estava coberto de lodo e o sangue brotava abundante daquela sujeira. Seu companheiro ficou muito abalado enquanto lavava as feridas na procura por alguma fratura. Propôs que voltassem. De alguma forma toda aquela adrenalina bloqueava a dor, mas esta proposta do amigo o fez perceber que a coisa tinha sido séria, muito séria mesmo.

Aos poucos a água foi mostrando o real estrago, nenhuma fratura, mas tinha extensas esfoladuras nos dois joelhos e no cotovelo esquerdo. No cotovelo direito tinha um corte de aproximadamente 1,5 cm que chegava ao osso e jorrava sangue. Julgou que ainda poderia suportar o tranco e partiu para cima enquanto o corpo estava quente e a adrenalina alta.

Passam direto pelo cume do Morro Negro, sem se desviarem para ver os restos do avião sinistrado numa longínqua manhã de sexta feira. Chovia torrencialmente sobre a Serra do Mar nas proximidades de Curitiba, quando o turbo hélice operado pela Sadia (depois Transbrasil) fazia sua aproximação para descida no aeroporto internacional Afonso Penna. Cerca de uma hora antes havia decolado de Congonhas, na capital paulista, com 20 passageiros e 5 tripulantes a bordo.

O que o comandante não sabia por estar com os VORs (equipamento eletrônico de navegação) desligados é que enfrentava forte vento de proa que o atrasava alguns segundos a cada quilômetro avançado em relação ao ultimo ponto de referência. Chamavam este procedimento de “voo por relógio” e exatamente a 25 quilômetros de distância da cabeceira da pista ou aproximados 4 minutos, o avião se chocou com o cume do Morro Negro numa altitude registrada de 4.635 pés.

O acidente vitimou 21 pessoas na montanha e deixou outros 4 feridos, o radiotelegrafista, um engenheiro de voo e 2 passageiros, que esperaram mais de 27 horas para serem resgatados pelos bombeiros que escalaram a montanha abrindo uma picada. Dos feridos 2 vieram a falecer em hospitais de Curitiba e 2 sobreviveram para contar a história. O curioso é que sobreviveram apenas os que foram arremessados para fora da cabine por não estarem atados às poltronas pelos cintos de segurança no momento do impacto.

A história do resgate é bem mais cabeluda. Foram tempos difíceis em que os recursos humanos e materiais eram muito escassos. O acidente ocorreu as 11:30 horas da manhã com tempo péssimo; chuva e neblina, e os bombeiros foram imediatamente acionados atingindo as encostas do Negro pela Estrada dos Mananciais onde iniciaram uma picada. Bateram facão até a exaustão e as 19:00 horas montaram acampamento para o pernoite.

Neste mesmo horário, depois de um dia normal de trabalho, alguns poucos montanhistas conseguiram se mobilizar e iniciaram a escalada da montanha por outra face, via Morro do Canal. Avançaram noite adentro ouvindo batidas compassadas na fuselagem, gritos de dor e gemidos intensos na medida em que se aproximavam. Chegaram ao local do desastre juntamente com a coluna dos militares que reiniciou os trabalhos ao amanhecer. Já havia pouco o que fazer e boa parte dos feridos morreram de hipotermia durante a noite úmida e gelada da Serra do Mar.

*****

Descem resolutos pela encosta traiçoeira tomando imenso cuidado ao passar sobre as pedras afiadas e profundas gretas que escondem as nascentes do riacho.

No vale que antecede a montanha Sem Nome foram direto a praiazinha com areias brancas lavar corretamente as feridas e fazer uma melhor avaliação dos estragos. Julio tomou um banho completo e lavou também as roupas sujas de barro. Da extensa esfoladura no joelho esquerdo vertia um líquido espesso e ardia até quando respirava enquanto do corte no cotovelo ainda corria um pouco de sangue e apenas latejava, mas já não se via o branco do osso. Sentados no barranco comeram e reidrataram com toda a calma, mas um ruído estranho lhes chamou a atenção para o interior da mata.

- Este bicho é dos grandes, pode ser uma anta!

Seguem em silencio pelas margens do riacho e penetram na mata por uma trilha de animais subindo a barranca para, estupefatos, encontrar um acampamento montado. Parecia que os donos haviam deixado o local pouco antes de chegarem e ainda os estavam observando escondidos no matagal. 

Numa elevação do terreno a pouca, mas segura, distância do riacho encontraram um toldo de lona azul esticado entre as árvores na frente de uma barraca fechada. Debaixo do toldo ainda havia uma head lamp Petzl, um fogareiro a gás e utensílios de cozinha. Num improvisado varal pendiam intactas a mochila, boné, luvas, algumas peças de vestuário e um par de botas tamanho 42 da marca Salomom. A barraca estava vazia e corretamente fechada, enquanto um par de polainas protegia os troncos de uma árvore próxima.

Tudo aparentemente em bom estado, mas sem vestígios de uso recente. Tanto o chão da clareira como as partes de cima do toldo estavam cobertas de folhas mortas carregadas pelo vento. As roupas meio apodrecidas denunciavam um bom tempo de exposição às intempéries, mas as botas é o que mais impressionavam. Apesar da aparência de novas quando examinadas mais de perto demonstravam rachaduras de ressecamento nas partes plásticas e uma fina cobertura de musgo verde já se instalava no forro interno demonstrando um ou dois anos de abandono. 

- Quem com juízo perfeito sairia andando descalço neste lugar?

Cinco horas de caminhada pesada separam o acampamento fantasma do lugar habitado mais próximo. Quilômetros forrados de espinhos eriçados e pedras afiadas, cobras, aranhas e escorpiões escondidos nas folhas prontos para atacar os incautos. Algo de terrível e assustador deveria ter acontecido naquele lugar, mais estranho é que nada demonstrava pressa ou improviso. Tudo muito bem arrumado a espera de um retorno que nunca ocorreu.

Sem sucesso vasculharam as imediações na procura de alguma pista extraviada e penetram no estranho bosque ao lado onde o vento cruzando pelos troncos eretos parece sussurrar palavras sinistras.

- Ouviu aquilo? Pareceu um chamado triste.

- É só o vento, mas parece que tem alguma coisa lá atrás. Vi algo se mexer!

- Pode ser um serelepe ou um pássaro, mas pegue o facão.

- Esqueça, já perdemos muito tempo por aqui.

Cruzaram o bosque com a estranha impressão de estarem sendo observados por algo furtivo e perigoso escondido nas sombras. Desceram uma depressão barrenta com vegetação rasteira e espessa para emergir na outra extremidade, já na base de uma larga canaleta que escala a montanha Sem Nome. 


Continua no capítulo 9 - A TRAVESSIA

O Acampamento Fantasma

Uma Travessia na Alpha-Ômega

Julio Fiori
A seguir O Acampamento Fantasma, 7º capítulo desta história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

Leia antes os capítulos: 1 -  A MARIA FUMAÇA,  2 -  A CACHOEIRA DOURADA,   3 -  A TRILHA,   4 -  O SOCORRO,   5 -  A ALDEIA  e    6 -  A TEMPESTADE.


                        - Falta muito Aldo? Não suporto mais andar.

                        - Tem que agüentar até encontrarmos algum lugar mais ou menos plano e seco.

Subiram pela encosta do Morro da Mesa até quase o topo e passaram a circundá-lo pela lateral com receio de serem atingidos por algum raio no cume. Isto exigia uma picada com exaustivo trabalho de facão. Varavam moitas intrincadas de macega e taquara numa encosta inclinadíssima para evitar as duas grandes pedras do cume exposto. O movimento o mantinha aquecido, mas Anna estava congelando no vento e na chuva. 

Alcançaram uma encosta repleta de enormes pedras cobertas pela floresta, algumas do tamanho de pequenas casas, com profundos sulcos entre elas. Grandes o suficiente para se abrigarem se não fosse o vento gelado assoviando pelos canais. Desceram zigzagueando pelo labirinto com a água escorrendo pelas paredes e fluindo em cascatas na altura das canelas até desaparecer em sumidouros medonhos. Não poucas vezes precisaram escalar as pedras para fugir de gretas intransponíveis.

Ficaram felizes com a aproximação do selado onde as árvores os protegiam do vento apesar da lama escorregadia e dos sucessivos tombos. As depressões no terreno se transformaram todas em lagoas, riachos ou atoleiros. Subiam e desciam pequenas elevações até se verem na encosta de outra montanha. Iniciaram nova escalada usando troncos e raízes das árvores como apoio, quase rastejando.

Com a mudança de vegetação e pela força inusitada do temporal perceberam a aproximação de outro cume e já não sabiam se isto era bom ou mau. Teriam que fazer novo e difícil contorno para se distanciar dos raios, mas a tempestade começava a arrefecer e decidiram correr este risco. Cruzaram por sobre o cume povoado de macega alta, intrincada e duríssima, se espremendo entre os ramos e os galhos cortantes. 

Longos trechos andando agachados, de gatinhas, deitados de peito escorregando na lama e por fim alcançaram uma espécie de canaleta descendo a montanha. A orientação contradizia a bússola, mas ao menos podiam se erguer sobre as pernas novamente e caminhar para baixo. A montanha ditava as normas e pouco importava o desejo dos homens.

Vertia água de ambos os lados da canaleta e corria fluída pelo chão, desaparecia por entre paus e pedras para ressurgir mais a frente com maior volume. O vento encanado subia o morro aprisionado pelas paredes laterais e se chocava com os dois moribundos descendo aos tropeços em meio ao caos de troncos podres e degraus de raízes. 

A escuridão da noite precoce dificultava ainda mais o avanço truncado por tantos obstáculos. As pernas fraquejavam e faziam paradas cada vez mais prolongadas, mas depois de atravessar uma depressão com água pela cintura e escalar com as unhas um barranco barrento se viram no interior de um bosque com árvores altas, retas e espaçadas. O vento assoviava entre elas e se não fosse o piso encharcado poderiam passar a noite ali. 

Cruzaram o bosque a procura de um lugar adequado para armar acampamento e sem encontrar nenhum se depararam com um trecho alagado de mata de galeria. No centro havia um riacho tranqüilo de águas negras sobre o fundo plano de areia.  Cheio demais pela chuva, mas sem corredeiras e isto indicava estarem num planalto relativamente extenso entre as montanhas.

Deveria haver algum lugar aceitável nas proximidades para acampar e percorreram o riacho com água pelos joelhos examinando com as lanternas a margem alagada de um lado e a barranca do outro. 

Finalmente visualizaram o lugar perfeito numa pequena clareira pouco afastada da barranca do riacho. Alto e distante o suficiente para não ser inundado, plano e limpo para conter até duas barracas, longe o bastante das árvores altas para que o vento não as derrubasse sobre suas cabeças a noite. 

Aldo tratou de limpar o terreno extirpando raízes salientes e galhos caídos enquanto Anna descansava as pernas doloridas debaixo da chuva que novamente engrossava. Rapidamente amarrou sua lona plástica azul entre as árvores e com isto providenciou um amplo abrigo. Abriu as mochilas fora da chuva e ao lado montou a pequena barraca da Anna. 

Molhados até a medula congelavam no vento e imóveis certamente cairiam vítimas da hipotermia. Era necessário e urgente descartar as roupas encharcadas e despiram-se sem pudor, ajudando-se mutuamente a secar os corpos. Na barraca trataram de entrar nos sacos de dormir, que viajaram protegidos nas embalagens plásticas, e juntaram seus corpos para produção de calor.

A pequena barraca oferecia proteção satisfatória apesar das goteiras produzidas pela montagem apressada e aquecia rapidamente o ar segregado em seu interior. Pouco demorou em se dedicarem as tarefas seguintes na escala de prioridades para a sobrevivência. Massagear mãos e pés até novamente o sangue circular pelas extremidades dos corpos e encontrar, em meio à bagunça, algumas peças de roupa seca o suficiente para ajudar na tarefa.   

Aldo comprovava o que só havia imaginado, existia de fato um corpo de criança acoplado ao rosto angelical de Anna. Os seios diminutos e a perturbadora ausência de pelos púbicos a aproximava perigosamente de suas fantasias veladas. Nelas jovens adolescentes, aos pares ou em trios, se entregavam a carícias íntimas com olhar ausente ou distante. Nunca as encarava diretamente nos olhos, mas Anna, ao contrário, tinha o olhar penetrante e decidido que o amedrontava e freava seus impulsos. Estava vulnerável e dependente de seus serviços para sobrevivência, mas não passiva e dominada pelas circunstâncias. Demonstrava protagonismo nos atos sem disfarçar certa arrogância nas palavras.

                        - Renan deve estar seguro na Estação, mas Oscar me preocupa bastante.

                        - Não sei que bicho mordeu o Renan pra enlouquecer daquele jeito. – respondeu Aldo – Mas não queira estar na pele do Oscar agora.

                       - Você nunca botou muita fé nele.

                      - Não é só isto. – mostrando no mapa – Mesmo conseguindo descer daquela montanha com segurança, veja quanta estrada tem que andar para chegar a algum lugar habitado!

Conversavam fervendo dois pacotes de macarrão instantâneo para aquecer também o estômago.

                        - Estamos na base da montanha do avião e depois é quase só descida até a civilização. No cume já encontraremos rastros de gente.

                       - Não quero mais saber deste avião por um bom tempo. 

                      - É, acho que já passamos pela pior parte e uma chuva destas não pode durar muito mais. Amanhã será difícil vestir aquelas roupas molhadas!

                      - Pelados e largados! Não te lembra aquele programa de tv?

Quase esquecem o clima de tensão depois de alimentados e aquecidos apesar da umidade extrema. A barraca é um casulo protetor e uma fina película de nylon os isola do caos exterior. O clima se descontraia gradativamente. Homens pensam em sexo até no velório da sogra e Aldo sofria com suas dúvidas, complexos antigos e atuais desejos. 

“Ataco ou não? Amanhã será tarde demais!”

Aqueles olhos determinados e brilhantes o confrontavam com sua mal disfarçada insegurança que o aprisionava numa vida solitária de fantasias com adolescentes ingênuas. 

O apagar das lanternas fez desaparecer também aquela última barreira que o desencorajava e freava sua iniciativa. Na escuridão podia mergulhar na fantasia com suas ninfetas submissas onde todos seus desejos eram permitidos. Soltou a imaginação e as ações acompanharam na prática um roteiro previamente definido.

                        - Que é isto Aldo? Ficou louco, pare com isto!

Tomada de surpresa para reagir de pronto, sufocada pelo peso do adversário e imobilizada pelo saco de dormir passou a debater-se freneticamente. Lutava como um animal acuado pelo predador, mordendo e arranhando com uma das mãos enquanto a outra procurava qualquer coisa solta pelo chão da barraca. 

O agrediu com o fogareiro e com as panelas, gritava e urrava sem parar, mas pouco podia contra a força desproporcional do agressor que se enfurecia diante da inesperada resistência. Instintos primitivos afloravam das entranhas mais profundas de seus cérebros. Agora a odiava com a força da natureza crua, queria sufocá-la, queria seu corpo inerte. Aquilo se transformou numa luta de vida ou morte, insana.

Depois de minutos infinitos afrouxou o abraço. Imediatamente encolheram-se em cantos opostos da barraca contra o nylon úmido e gelado. Aldo ainda sentia o aço frio penetrando fundo entre suas costelas. Uma, duas, três vezes seguidas e o sangue quente vertendo dos ferimentos. Notou o braço esticado com o canivete suíço marcando a distância entre eles e viu aqueles olhos verdes flamejantes brilhando no escuro. Não eram os olhos de Anna, eram olhos terríveis que lhe prediziam um destino fatal.

Correu descalço pela mata, dominado pelo pânico, caiu no riacho e por ele seguiu em desespero. O peito latejando em chamas debaixo da chuva fria. Sua fuga foi interrompida por grandes pedras desalinhadas e bordas afiadas em meio a troncos podres e musgo. Arrastou-se por cima delas até cair numa greta escondida. 

Livre da chuva podia ouvir a água escorrer por debaixo dele a uma profundidade indeterminada. Sobre sua cabeça centenas de aracnídeos fedorentos exalavam um cheiro ácido quando acidentalmente tocados. Uma massa disforme em constante movimento.

Anna não dormira um só minuto nas ultimas 24 horas. Acompanhou pingo a pingo o final da chuva e com o coração aos saltos se armava a cada ruído da floresta. Os pássaros foram os primeiros a anunciar o começo de um novo dia. A noite interminável finalmente era vencida pelas primeiras luzes do amanhecer. Lentamente o sol vencia as trevas gotejantes e Anna encheu-se de coragem para olhar fora da barraca. Não encontrou Aldo debaixo da proteção do toldo como esperava e se desesperou.

Passou a noite inteira lutando contra sentimentos conflitantes. Poderia ter cedido ao inescapável para o apaziguamento da situação, mas foi tudo tão rápido e inesperado. Agira por impulso e já se questionava. Tinha ainda nítida memória de todas as vezes que flertara com o Aldo para enciumar o Oscar no dia anterior. Talvez lhe devesse aquilo e pouco lhe custaria, era o poder feminino para dominar a selvageria masculina, mas como esquecer que o havia esfaqueado na luta? 

Percorreu os arredores a procura do Aldo sem encontrar nenhum vestígio. Chamou, gritou e só obteve o silêncio como resposta. Percebeu movimentos furtivos no interior do bosque e os beija-flores vieram lhe fazer companhia nas margens do riacho que já se transformava completamente. Antes escuro e fundo se apresentava agora límpido e transparente, fluindo levemente sobre um fundo de areias brancas. Aqui e acolá brilhavam lindas flores de bromélias, vermelhas como sangue. 

Sentada sob o toldo percebia a vida pulsando ao seu redor. Debaixo de cada folha caída movia-se um inseto, um pequeno camaleão a observava de um galho próximo e um ratinho curioso se aproximava furtivamente para encarar aquela estranha figura que invadiu seu território.

Assustou-se com os urros distantes de um bugio avisando que a floresta tinha dono e chorou sua solidão. Na barraca ainda tinha alguma erva e muita comida disponível para saciar a larica subseqüente. Sentia-se abandonada e cansada demais para se mover. Sua mente entregava-se ao sono mergulhada em alucinações. 

A chuva retornava e desaparecia. Procurava Renan pelos campos imersos na neblina densa e irritava-se com a teimosia de Oscar e seus caprichos inúteis. Criança mimada que não sabia ouvir um não sem fazer birra. Incomodava-se ao se sentir observada pelo Aldo sempre tão estranho e distante. Percebia algo de malévolo naqueles olhos arregalados e doentios querendo penetrar nas mentes para saber o que pensavam dele. Muito inseguro por dentro da carapaça externa de falso Indiana Jones. 

A chuva se intensificava e raios voltavam a castigar os cumes da serra. Trovões rolavam como trens desgovernados sobre vales e montanhas. Relâmpagos iluminavam a escuridão com flashes cegantes.

                      - Atenção TWR, aqui PP-SDJ 190 na rota 270.

                      - Ouvindo SDJ.

                      - SDJ ultrapassou 032 de SBBI há 2 minutos e estabilizando.

                      - Ok! SDJ faça a aproximação para pouso na...

Viu a explosão e o fogo percorrendo a cabine. O cume do morro arrasado e fumegante com pedaços de metal, malas arrebentadas e poltronas espalhadas na chuva. Ouviu os gemidos, o choro e sentiu a dor dos sobreviventes em meio à confusão de corpos estirados no chão preto. Roupas e pedaços de corpos pendurados nos ramos nus da vegetação devastada. 

Ouviu batidas sincopadas na fuselagem rasgada da aeronave e contou 25 corpos dispersos, entre vivos e mortos. Uivos tristes e cheiro de pólvora na sombra da noite. Acompanhou o helicóptero de resgate inçando a maca fustigada pelo vento e se surpreendeu com os olhos abertos de Renan dentro do saco plástico preto. 

Oscar acordava na escuridão fria fitando apavorado os cintilantes pontinhos verdes brilhantes que se aproximavam aos pares. Aldo a sufoca novamente e a barraca transborda com o cheiro doce do sangue quente emplastando o saco de dormir, suas mãos e seu rosto.

Desperta do pesadelo banhada em suor gelado, apavorada, sem compreender os limites da realidade. Não está mais sozinha, a tarde já se foi pela metade e duas fadas flutuam a poucos passos de distância da porta da barraca. Duendes correm por entre as árvores altas numa divertida brincadeira de pega-pega. Melhor descansar por ali mais uma noite, fazer outra viagem e partir pela manhã com a alma lavada. 

O vento passando suave pelos troncos eretos do bosque sussurram alguma canção de ninar ao entardecer e as fadas se aconchegam para dormir num ninho de passarinhos.


Continua no capítulo 8 - O AVIÃO DA SADIA

A Tempestade

Uma Travessia na Alpha-Ômega

Julio Fiori
A seguir A Tempestade, 6º capítulo desta história contada em 10 capítulos, escrita para esclarecer alguns mistérios da Serra do Marumbi e aprofundar outros, onde alguns personagens, lugares e acontecimentos são reais enquanto nomes, datas e outros tantos acontecimentos são fictícios. Tudo junto e misturado durante uma hipotética Travessia Alpha-Ômega.

Leia antes os capítulos: 1 -  A MARIA FUMAÇA,  2 -  A CACHOEIRA DOURADA,   3 -  A TRILHA,   4 -  O SOCORRO   e   5 -  A ALDEIA  



                 - Renan! Renan! – gritava Oscar.

                  - Renan responda, por favor. – choramingava Anna.

Começava a amanhecer e o capim já estava todo amassado pela busca desesperada que faziam a Renan desde que acordaram e não o encontraram na barraca. A neblina continuava igualmente densa, mas às vezes, no alto, abria um buraco por onde se via um pedaço do céu. Aldo assistia a tudo com cara de paisagem.

                 - Aldo, você sabe de alguma coisa, onde está o Renan?

                 - Não sei de nada, cara! De madrugada ele saiu da barraca e ficou gritando feito doido pelo campo, depois ficou quieto e tudo voltou ao normal.

                 - Normal uma ova, seu merda, porque você não levantou e foi ver o que estava acontecendo? – e partiu pra porrada.

                  - Calma gente! – interveio Anna – Brigar agora não resolve nada.

                  - Sei lá qual é a treta de vocês? O cara estava maluco, violento e porque vocês que são amigos dele não levantaram? 

                  - Ache ele Aldo, você sabe seguir rastros. – Anna chora.

                  - Vocês acham que sou apache? Não se enxerga cinco metros e o capim está todo amassado! Tem rastro para todo lado e já se passou três horas ou mais. O negócio é sair daqui e chamar os bombeiros num lugar com sinal de celular, se até lá não tivermos notícias dele.

                  - E se ele voltar? E se nós voltássemos todos?

                  - Já teria voltado se quisesse e nem sabemos pra que lado foi. Podemos deixar marcas para que nos siga e em Curitiba teremos mais recursos.

Desmontaram acampamento e partiram em jejum, quebrando galhos e folhas na passagem. O terreno desce em meio à vegetação densa até que adentram um inferno composto por imensas pedras debaixo da copa das árvores. Por entre as pedras se abrem fossos de profundidade indeterminada, alguns grandes o suficiente para engolir um automóvel e outros sob medida para quebrar uma perna. Muitos tão limpos e lisos quanto profundos e os mais perigosos cobertos por galhos secos e folhas mortas. 

Escalam pedras e percorrem os labirintos em zig-zag com alguns tombos e muitas esfoladuras, sempre descendo. 

A neblina ficava para trás, não penetrava na floresta e já se percebia que o sol a dissolvia no alto das montanhas. Tangenciaram uma encosta de montanha que subia a esquerda ainda caminhando sobre um extenso terreno dominado por profundas gretas. Armadilhas cobertas por finas camadas de sujeira. Oscar despencou numa delas e foi salvo pela mochila que engatou num galho. Esfolou-se todo e precisou de ajuda para escapar. 

                  - Estão ouvindo? Podem estar nos procurando.

                  - Minha mãe é bem capaz de chamar a cavalaria se desconfiar que estou aqui!

                 - Só se acharem que nos afogamos. Estão passando sobre a represa.

Perceberam um amplo vale seco se abrindo a sudoeste. Anna recorria cada vez mais ao Aldo para ajudá-la a escalar as pedras, transpor as gretas e retirar os espinhos que reiteradamente lhe feriam as mãos. Oscar que não conseguia digerir a discussão no acampamento se contorcia de ciúmes e mais afundava em ressentimentos.

A cada passo ficava mais azedo e com isto mais afastava Anna. A exagerada cortesia de Aldo o irritava ao extremo e constantemente explodia em palavrões contra as pedras, as raízes e ao vento que sacudia a copas das árvores derrubando folhas, gravetos e aranhas.

Viam que o sol estava forte, mas o vento se tornava infernal acima das árvores. O vale ascendente começou a se estreitar, espremido entre duas encostas próximas e quando mudou a inclinação para descendente subiram o morro à esquerda depois de consultar o mapa. 

A vegetação se torna mais baixa e densa com a aproximação do cume, surgem os caraguatás que cortam como navalhas e perfuram como punhais, precisam lutar contra as moitas de taquaras que amarram e imobilizam.

Nos campos do cume, as lufadas de vento os quer varrer para o precipício. Sobem engatinhando, com mãos e joelhos na grama e são tomados de pavor ao contemplar o horizonte. Uma barreira de nuvens negras, maciça como uma parede fecha todo o quadrante sul recheada com ruidosos flashes de luz. Aproxima-se tratorando vales e montanhas. 

A frente um selado povoado de macega e caraguatás, depois outro morro mais alto e desprotegido antes de alcançar a segurança das árvores na encosta oposta. Correm para o selado desafiando a vegetação para ressurgir do outro lado com braços e pernas dilacerados pelos caraguatás, mas não há tempo para lamentações. Sobem a encosta com a tempestade nos calcanhares, de joelhos e descem a outra face aos tropeços. 

Uma explosão de luz e som os atira com o rosto na terra. O cheiro do ozônio contamina o ar e a vegetação lhes impõe pequenos choques elétricos na pele nua. Um raio acabara de cair no cume da montanha onde passaram. O chão ainda fumegava quando se abrigaram debaixo das árvores para recuperar o fôlego. Escaparam por segundos da morte certa.

                   - Merda! Pra mim chega desta bosta! – Oscar chega ao limite - Não agüento mais esta tortura.

                  - Vai fazer o quê? – Anna se irrita – Vai chorar? Vai chamar a mamãe?

                  - Não me encha o saco, sua, sua...

                  - Sua o quê? Quem tem medo do mundo atrai todo tipo de mau agouro.

                  - Quer dizer que minhas atitudes provocaram toda esta desgraça?

E a discussão foi interrompida pelo aguaceiro gelado que se seguiu. Imediatamente sacaram os anorakes e trataram de proteger tudo que havia no interior das mochilas com sacos plásticos. Voltaram à civilidade depois de encharcados até os ossos.

                   - Como se escapa daqui Aldo? – perguntou Oscar.

                   - O rumo é sempre sudoeste, por cima das montanhas.

                   - Mas não tem outra opção melhor?

- Sei que pro sul é um buraco dos infernos e para o norte tem a Estrada dos Mananciais e a represa, mas nem tenho idéia da distância e muito menos da dificuldade. Se alguém já desceu por aí nunca relatou.

                  - Como assim? Posso ver o mapa?

                  - Nesta chuva não, mas nem precisa. A estrada segue paralela a serra quase até o Morro do Cadeado. Não tem como errar, é só descer, mas chegar nela vivo são outros quinhentos e depois tem toda a estrada para andar sem a proteção das árvores. Pode levar um raio nos chifres.

Aldo não deveria ter falado em chifres, Oscar entendeu como provocação. Sentia-se fraco e humilhado num ambiente hostil que não dominava. Sempre foi o rei da balada com carro do ano, papai poderoso, i-phone e viagens a Disney. Via-se agora como piá de prédio enquanto Anna arrastava as asas para um macho alfa. Precisava mudar o jogo, se livrar do Aldo. A estrada significava civilização e o social era seu ambiente natural. Alugaria ou compraria o carro velho de algum caboclo, até carroça serviria nesta situação.

                   - Anna vamos descer para a estrada. – decidiu-se enfim.

                  - Vai você! Não ouviu o que o Aldo explicou?

                  - Eu vou para a estrada e você vai comigo sem discussão!

                  - Nem fodendo Oscar! Não estou maluca de sair sozinha com você neste mato.

                  - O Aldo vem também.

                  - Opa, Tô fora camarada! Tem mais duas montanhas que nunca andei, mas já ouvi muitas histórias e outras duas que conheço bem. Não vou trocar o certo pelo duvidoso e nem imagino as pirambas que tem aí em baixo.

                 - Vou sozinho para a estrada se ninguém me acompanhar.

                 - Nem pense Oscar. De merda já chega o que fez o Renan lá atrás. Ninguém precisa de dois perdidos neste matagal.

E outro raio explodiu no cume do Mesa, a montanha em frente.

            - É pra lá que vocês vão? Quero mais é que se fodam, seus filhos da... – e calou-se.

                  - Não podemos te amarrar numa árvore Oscar, mas descer aí é fodeção na certa.

                  - Foda-se palhaço, espero vocês em casa tomando chocolate quente. Tchau!

E partiu debaixo de chuva grossa. Em instantes desapareceu no bosque sem deixar vestígios. De nada adiantou os protestos da Anna e nem que quisessem poderiam segui-lo. A água já corria pela superfície do terreno e apagava os rastros. Raios e trovões disputavam o céu e a mata estava mergulhada na semi escuridão das tempestades. Só restava seguir adiante e rezar para tudo terminar bem. 

O selado vai se dividindo em múltiplos e profundos vales, todos eles inundados e tomados por forte correnteza. Oscar estava furioso com a situação e principalmente com a namorada que o havia preterido, escorregava nas pedras lisas e não foram poucos os tombos. Para escapar das canhadas inundadas se via obrigado a escalar as cristas acidentadas em meio ao barro e aos espinhos. 

A raiva não é boa conselheira e não demorou para se meter em encrenca pesada, escorregava por encostas que não tinha capacidade para voltar a escalar e as pedras aumentavam de tamanho formando cachoeiras medonhas.

A tempestade corria solta com os relâmpagos intermitentes iluminando a mata seguidos por trovões ensurdecedores. A ventania derrubava árvores numa distância indeterminada e os grossos pingos da chuva o bombardeavam juntamente com folhas e outros detritos. A situação se tornava desesperadora com a proximidade da noite e a mata escura o obrigou a ligar a lanterna. 

Lutou incansavelmente contra os elementos até diminuir a chuva e os raios cessarem quase por completo. Ganhava uma pequena trégua da tempestade, mas então bateu a cabeça num tronco e trincou a carapaça impermeável da head lamp. A água fez seu serviço quando alcançou os circuitos e ficou no escuro, sentado na lama, maldizendo seu destino. 

Levou uma eternidade para dominar o pânico até seus olhos se acostumarem à escuridão. Olhando para o vazio percebeu um brilho ainda muito distante por entre o movimento da folhagem e com enorme esforço começou a se arrastar naquela direção. Tropeçava, escorregava e agarrava qualquer coisa ao alcance das mãos, que sangravam dilaceradas por pedras afiadas e espinhos pontiagudos. 

Muito abaixo os brilhos se multiplicavam e reforçava suas esperanças de encontrar algum sítio. Descia cambaleante pela encosta barrenta já não muito inclinada e finalmente, do alto, identificou alguns casebres e postes. Depois distinguiu um uivo triste e o ladrar amedrontado dos cães pouco antes da tempestade recomeçar despejando novos raios e trovões. Talvez uma vila ou bairro afastado e seu coração pulava de alegria, finalmente havia vencido. 

                  - Isto mesmo chuva, raios e trovões! Castiguem aqueles dois filhos da puta lá em cima. Que se fodam os palhaços!

O frio desapareceu de sua mente, a água escorrendo por dentro de suas roupas encharcadas não o incomodava mais, os tombos não podiam lhe machucar mais do que já estava ferido e a dor desaparecia por completo, anestesiada pelo otimismo. Caminhava numa estrada e a felicidade inundava sua alma. Sentia-se vivo novamente.

- Estou salvo! Estou salvo!


Continua no capítulo 7 - O ACAMPAMENTO FANTASMA